A indústria africana de refinação de ouro está a entrar numa fase de transformação, à medida que as nações competem para captar mais valor das suas riquezas minerais com a inauguração de novas refinarias.
Desde gigantes já estabelecidos, como a Rand Refinery da África do Sul, até novos projectos estatais no Gana, Uganda e Mali, o continente está a construir uma rede de refinarias destinadas a processar o seu próprio ouro em vez de exportar minério bruto.
Com a procura global por ouro a continuar a crescer, África está a assistir a um aumento da actividade de refinação do metal precioso — uma mudança estratégica que visa reter mais valor dentro do próprio continente.
Por toda a África, os Governos procuram transformar as suas riquezas minerais, passando da exportação de matérias-primas para a produção de activos refinados que alimentam o sistema financeiro global. No entanto, esse crescimento, embora promissor, tem exposto profundas tensões políticas, económicas e ambientais em várias regiões.
Uma indústria em expansão num contexto de tensões crescentes
África detém cerca de 30% das reservas mundiais de ouro e, segundo dados do World Gold Council, os países africanos produziram 979,2 toneladas métricas de ouro em 2022.
Durante décadas, a maior parte dessa produção era enviada para o estrangeiro para ser refinada, privando as economias africanas do valor agregado. Essa tendência está agora a inverter-se, com novas refinarias no Gana, Uganda e Mali a liderarem uma vaga de benefício local destinada a reter mais riqueza dentro das fronteiras africanas.
Contudo, este boom também tem agravado tensões. No Gana, a mineração ilegal alimenta a poluição e o contrabando, enquanto na República Democrática do Congo e na região dos Grandes Lagos, as redes de ouro têm sido associadas a grupos armados.
O crescimento do Ruanda como centro de refinação também tem sido alvo de escrutínio devido a alegadas ligações ao minério congolês. Enquanto isso, os membros da Aliança dos Estados do Sahel (AES) — Mali, Burkina Faso e Níger — procuram assumir maior controlo sobre os seus sectores mineiros, argumentando que o domínio estrangeiro os tem privado de retornos justos das suas riquezas minerais.
Geopolítica, bancos centrais e a nova corrida ao ouro
A disputa geopolítica pelo ouro africano está a intensificar-se. Os Estados Unidos da América (EUA), receosos do crescente envolvimento russo e chinês no sector de recursos do continente africano, ampliaram parcerias e estruturas de investimento através da Mineral Security Partnership (MSP) para garantir o acesso a minerais críticos e estratégicos — incluindo o ouro.
A influência norte-americana é particularmente visível nos mecanismos de financiamento e conformidade que determinam quais as refinarias que podem operar livremente nos mercados internacionais. No centro desses padrões globais encontra-se a London Bullion Market Association (LBMA), a principal autoridade mundial em refinação de ouro e prata.
A acreditação da LBMA, conhecida como estatuto Good Delivery, certifica que uma refinaria produz barras que cumprem os mais altos padrões de pureza, peso e origem ética. Sem essa certificação, muitas refinarias enfrentam dificuldades para aceder a grandes mercados internacionais ou estabelecer parcerias com bancos globais.

O ouro, porém, vai muito além do comércio. Com as moedas globais sob pressão inflacionária e riscos geopolíticos crescentes, vários bancos centrais africanos — incluindo os do Gana, Nigéria e África do Sul — aumentaram as suas reservas de ouro.
Para estas instituições, o ouro representa tanto uma forma de protecção como uma declaração de independência económica, simbolizando estabilidade num contexto global em constante mudança.
As principais refinarias de ouro de África e os novos projectos emergentes
O panorama da refinação em África permanece desigual. Apenas uma refinaria — a Rand Refinery, da África do Sul — cumpre os padrões globais Good Delivery da LBMA. Ainda assim, dezenas de novas plantas estão a surgir por todo o continente, reflectindo uma crescente determinação em controlar a cadeia de valor do ouro.
A inclusão de novos projectos estatais, como a refinaria de Senou no Mali, revela uma mensagem política mais ampla: os países africanos já não estão dispostos a ser meros fornecedores de minerais brutos.
Se esta expansão resultará numa verdadeira independência económica ou apenas numa mudança de dependência do Ocidente para o Oriente dependerá da forma como os Governos equilibrarão soberania, transparência e integração global nos próximos anos.
Fonte: Business Insider Africa
































































