Venâncio Mondlane, político moçambicano que protagonizou a maior contestação popular da democracia multipartidária do País, afirmou, em entrevista à Lusa, que poderá concorrer novamente à Presidência da República caso o seu partido assim o decida. Trata-se do Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamola), partido que fundou e preside interinamente até ao congresso de 20 de Junho de 2026.
O político explicou que o congresso terá a responsabilidade de eleger o líder do partido e definir a estratégia política e eleitoral. “Nessa altura, vamos ver o que os membros do partido vão decidir sobre isso”, acrescentou, sublinhando que todas as decisões sobre a sua candidatura dependerão da vontade dos membros do partido.
Um ano depois das eleições gerais de 9 de Outubro de 2024, cujos resultados nunca reconheceu, Venâncio Mondlane criticou duramente a situação do País. “Os níveis de democracia e de direitos humanos estão no estágio mais problemático da história” de Moçambique, afirmou, considerando que o País está praticamente falido e a deteriorar-se continuamente.
O responsável denunciou ainda a degradação dos serviços públicos. “Em matérias de indicadores sociais, estão à vista. Educação, saúde, é uma desgraça completa”, disse. “Moçambique, um ano depois das eleições, está numa situação verdadeiramente calamitosa. Todos os indicadores mostram que o País está a resvalar cada vez mais para o fundo do precipício.”
Mondlane recordou que as candidaturas presidenciais podem ter o apoio de partidos políticos, como aconteceu com o Podemos em 2024, e salientou que esta relação terminou com a criação do seu próprio partido. Em Julho, foi acusado pelo Ministério Público de cinco crimes relacionados com as manifestações pós-eleitorais, incluindo incitamento à desobediência colectiva e instigação ao terrorismo, acusações que nega.
“O meu grupo de advogados de Portugal, Angola e Moçambique tem feito um trabalho belíssimo. Contestaram as acusações de crimes contra a segurança do Estado e os processos cíveis de indemnizações absurdas”, explicou, garantindo que a equipa está preparada para defender a sua eventual candidatura em 2029.
O político lembrou ainda manobras que, segundo ele, visam afastá-lo como oponente político. “Eles sempre tiveram problemas comigo como um oponente. Em 2018, queriam afastar-me das eleições autárquicas da cidade de Maputo porque sabiam que não tinham condições de me ganhar. Isto é histórico”, disse. Cerca de 400 pessoas morreram nos confrontos pós-eleitorais, que só cessaram após encontros com o Presidente Daniel Chapo em Março.
O político criticou também o actual diálogo político em Moçambique, do qual o seu partido ficou de fora. “Não é um diálogo, é um simulacro de um diálogo. A força mais importante que esteve na origem de todos os protestos do ano passado está a ser excluída deste mesmo diálogo. É esta a realidade que nós temos”, afirmou, lembrando que o Conselho Constitucional proclamou Daniel Chapo vencedor com 65,17% dos votos, enquanto ele obteve 24%.
Fonte: Lusa
































































