A ousada transição do Zimbabué para a sua nova moeda lastreada em ouro, o ZiG, está a atrair a atenção do Fundo Monetário Internacional (FMI). Na sua última consulta ao abrigo do Artigo IV, o FMI pediu a Harare para esclarecer o seu roteiro de desdolarização, alertando que a incerteza sobre a direcção da política monetária e a conversibilidade da moeda poderia minar a confiança do mercado.
A advertência do FMI surge num momento crucial para o Zimbabué. Após décadas de instabilidade monetária e episódios recorrentes de hiperinflação, o Governo introduziu o Zimbabwe Gold (ZiG) no início de 2024, atrelado às reservas de ouro do país e a uma cesta de moedas estrangeiras. Desde então, as autoridades estabeleceram 2030 como o ano-alvo para substituir totalmente o dólar americano, que actualmente domina mais de 70% das transacções domésticas.
De acordo com a instituição financeira, o sucesso do Zimbabué depende da eficácia com que o país consegue comunicar e implementar a sua estratégia de reforma monetária. O Fundo destacou ambiguidades persistentes — incluindo se os depósitos em dólares continuarão a ser conversíveis, como os mecanismos de taxa de câmbio irão evoluir e o que o cronograma de transição realmente implica.
Estas questões aumentaram a incerteza entre os investidores e as empresas. Apesar da relativa estabilidade do ZiG desde a sua introdução, os analistas observam que a confiança continua frágil sem uma consistência política clara. “A desdolarização deve ser sequenciada cuidadosamente, ancorada em quadros fiscais e monetários credíveis”, alertou o FMI.
O Fundo também aconselhou o Governo a evitar restrições prematuras ao uso de moeda estrangeira, recomendando que as autoridades primeiro construam confiança por meio da estabilidade macroeconómica, transparência e adequação das reservas. Isso inclui aumentar a independência do Banco Central do Zimbabué (RBZ) e fortalecer a disciplina fiscal para evitar a monetização do défice — um dos principais gatilhos das crises passadas.
Resposta do Governo e implicações para o mercado
O RBZ afirma que o ZiG está no caminho certo para restaurar a soberania monetária e defende a sua política monetária restritiva como essencial para conter o desajuste económico. A inflação caiu drasticamente de mais de 175% no início de 2024 para menos de 20% em meados de 2025, impulsionada por uma taxa de câmbio estável e melhores reservas de ouro.
Os responsáveis financeiros também reafirmaram o seu compromisso com uma transição faseada, com a utilização do dólar a persistir a médio prazo. “O ZiG é a âncora da nossa estabilidade monetária. O processo levará tempo, mas a confiança está a regressar”, afirmou um alto funcionário do Tesouro.
No entanto, os grupos empresariais continuam a manifestar preocupação com as restrições de liquidez, a dupla fixação de preços e o acesso limitado ao câmbio, factores que ameaçam travar a recuperação económica se não forem resolvidos.

Confiança dos investidores e o caminho a seguir
Para o Zimbabué, reconquistar a confiança dos investidores continua a ser o teste definitivo. A clareza na orientação política poderia ajudar a atrair o capital estrangeiro tão necessário, especialmente nos sectores de mineração, manufactura e infra-estrutura. O FMI enfatizou que regras previsíveis, dados transparentes e uma governança fortalecida do banco central são essenciais para reconstruir a credibilidade aos olhos dos credores e dos mercados internacionais.
O sucesso da transição monetária do Zimbabué dependerá não apenas da gestão macroeconómica, mas também da vontade política — garantindo que as reformas sejam protegidas de pressões de curto prazo e interesses particulares. Se executado de forma eficaz, o ZiG poderá simbolizar uma nova era de resiliência monetária. Se mal administrado, corre-se o risco de repetir o padrão cíclico de volatilidade que há muito assombra a economia do país.
À medida que a experiência do ZiG se desenrola, todos os olhos estão postos em Harare — e em saber se o país conseguirá finalmente encontrar um equilíbrio entre ambição e estabilidade.
Fonte: Further Africa

































































