Um relatório da IE University, Espanha, sublinha o papel dos fundos soberanos para que as metas propostas nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sejam alcançadas.
Moçambique tem 44 pontos em 100, ligeiramente abaixo da média do continente africano (45), na primeira edição do Índice de Prestação de Serviços Públicos (PSDI, sigla inglesa), um dos mais recentes estudos elaborados pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) com base em dados de 2024. Em todas as cinco dimensões avaliadas, a prestação de serviços públicos em energia e electricidade é a mais bem classificada (52 pontos), seguida pela inclusão socioeconómica (49), soberania alimentar (43), integração regional (43) e industrialização (35).
Os fundos soberanos de investimento (SWF, na sigla em inglês) estão a afirmar-se como actores centrais no esforço global para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, segundo o Sovereign Impact Report 2025 (Relatório 2025 sobre o Impacto dos Fundos Soberanos), publicado pelo Centro para a Governação da Mudança da IE University (originalmente Instituto de Empresa, instituição privada espanhola, entretanto alargada para outras áreas). O trabalho, da autoria de Drew Johnson, director-adjunto de investigação sobre Fundos Soberanos e da Sovereign Impact Initiative, confirma que estes veículos financeiros estão a direccionar, de forma crescente, capital para o desenvolvimento sustentável, com especial destaque para África. Estima-se que ajudem a reduzir o défice anual de financiamento dos ODS, estimado em 4,2 biliões de dólares, através de estratégias de investimento de longo prazo.
Com activos globais superiores a 13 biliões de dólares sob gestão, os fundos soberanos — muitos deles sediados em países em desenvolvimento ricos em recursos naturais — consolidaram-se como mecanismos de mobilização de capital sustentável. De acordo com inquéritos recentes, 67% destes fundos já consideram um ou mais ODS nas suas decisões de investimento, um salto face aos 48% registados em 2022. Segundo o trabalho, esta evolução ilustra uma mudança mais ampla no panorama financeiro internacional, em que o impacto do desenvolvimento é cada vez mais visto como complementar ao retorno financeiro a longo prazo.

Energia renovável para um desenvolvimento inclusivo e verde
O relatório sublinha o papel central dos fundos soberanos no estímulo ao investimento em energias renováveis — precisamente o sector com maior défice de financiamento ligado aos ODS, estimado em 2,2 biliões de dólares por ano. Só em 2022, os fundos soberanos aplicaram mais de 6 mil milhões de dólares em investimentos directos no sector da energia renovável, apesar da desaceleração global da actividade dos SWF nesse mesmo ano.
“Os fundos soberanos estão numa posição única para actuarem como investidores pacientes e estratégicos em sectores essenciais para o desenvolvimento inclusivo e verde”, explica Drew Johnson. “Têm capacidade para atrair capital privado, reduzir riscos e oferecer estabilidade de longo prazo — factores críticos em mercados em desenvolvimento, onde a escassez de financiamento para os ODS é mais aguda.”
África: fundos soberanos como motores de crescimento interno
Embora a Ásia e o Médio Oriente continuem a dominar em volume de activos e dimensão das operações, o relatório dedica atenção especial ao surgimento dos fundos soberanos africanos como protagonistas do desenvolvimento interno. Desde 2010, foram criados 15 fundos soberanos na África Subsaariana, que, no seu conjunto, gerem hoje cerca de 153 mil milhões de dólares. Apesar de modestos face aos gigantes globais, estes fundos — frequentemente estruturados como Fundos de Investimento Estratégico (SIF) — perseguem o chamado “duplo objectivo”: assegurar retorno financeiro e, em simultâneo, promover o desenvolvimento socioeconómico.
Um desafio enorme
O relatório destaca ainda a crescente utilização de modelos de financiamento misto (“blended finance” no termo inglês) e de parcerias público-privadas por parte dos fundos africanos, bem como as alianças em expansão com instituições financeiras de desenvolvimento (DFI), sociedades de capital privado e investidores globais de impacto.

A Sovereign Impact Initiative
Elemento central do relatório, a Sovereign Impact Initiative (SII, Iniciativa para o Impacto dos Fundos Soberanos) é um projecto em curso liderado pela IE University, em parceria com vários fundos soberanos africanos.
O objectivo é conceber e implementar um veículo de financiamento misto para apoiar projectos alinhados com os ODS em todo o continente. O grupo inicial inclui instituições como a Nigerian Sovereign Investment Authority (NSIA), a Ithmar Capital de Marrocos, o FONSIS do Senegal e o Sovereign Fund of Egypt (TSFE), com planos futuros de alargar a iniciativa à América Latina, Caraíbas e Sudeste Asiático.
“A Sovereign Impact Initiative é mais do que um simples mecanismo financeiro — é também uma plataforma de formação e capacitação”, reforça Johnson. “Ao dotar estas instituições com ferramentas e competências para avaliar, estruturar e escalar investimentos de impacto, estamos a preparar uma nova geração de investidores soberanos, profundamente atentos às necessidades sociais e ambientais dos seus países.”
Apelo à comunidade internacional
O relatório conclui com um apelo à comunidade internacional para que envolva os fundos soberanos como parceiros estratégicos no desenvolvimento sustentável. Os investigadores do Center for the Governance of Change alertam que, com menos de seis anos até ao horizonte da Agenda 2030, os desafios — mas também as oportunidades — são maiores do que nunca.
Para Irene Blázquez, directora do Centro para a Governação da Mudança da IE University, “a Sovereign Impact Initiative é um projecto transformador de impacto social, destinado a conquistar o apoio de líderes comprometidos e de mentes visionárias no ecossistema do investimento de impacto.”

Texto: Redacção • Fotografia: D.R.
































































