O Camões I.P. reforçou, em 2024, o contingente de bolsas de estudo para jovens moçambicanos poderem estudar em Portugal, privilegiando áreas como engenharia, saúde e informática.
O programa de bolsas de estudo do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, entidade estatal portuguesa, tem desempenhado um papel central na formação académica de jovens moçambicanos, abrindo portas para cursos superiores em Portugal e em instituições de ensino moçambicanas.
Inserido no quadro mais amplo da cooperação bilateral entre Portugal e Moçambique, este programa constitui, segundo Helena Guerreiro, Adida Técnica Principal para a Área da Cooperação na Embaixada de Portugal em Maputo, “um dos sectores prioritários, que congrega educação e formação, valorizando os recursos humanos como condição essencial para o desenvolvimento sustentável do País”.
Fomentar a proximidade social e cultural
Com raízes que remontam ao final da década de 1990, o programa ganhou um enquadramento formal em 1999, através da Resolução 33/99 do Conselho de Ministros de Portugal. Desde então, tornou-se “num instrumento de reforço do sistema científico e tecnológico de Moçambique, facilitador do acesso à formação científica e técnica dos seus jovens e quadros, em áreas prioritárias para o desenvolvimento inclusivo do País”, sublinha a responsável.
O impacto tem sido expressivo e, em 2024, o Governo português aumentou o contingente anual de bolsas externas atribuídas a Moçambique, passando de 57 para as 75. “Este aumento demonstra o reconhecimento do impacto positivo destas bolsas e a vontade de alargar as oportunidades aos jovens moçambicanos”, explica Helena Guerreiro. O programa contempla duas modalidades principais: bolsas para formação em Portugal e bolsas para formação em Moçambique, abrangendo tanto o ensino secundário como o superior.

Aproximar dois países irmãos
A mobilidade académica proporcionada pelas bolsas externas cumpre, na visão da responsável, “uma dupla valência: por um lado, permite a frequência de cursos inexistentes no sistema de ensino moçambicano; por outro, amplia as perspectivas profissionais e pessoais dos estudantes, democratizando o acesso ao ensino superior no estrangeiro, com critérios de selecção que discriminam positivamente candidatos com menos recursos financeiros, mulheres e residentes fora dos grandes centros urbanos.”
Mais de metade dos 70 bolseiros são mulheres e 85% estudam em sectores prioritários para o desenvolvimento do País
O programa privilegia áreas alinhadas com as prioridades definidas no Programa Estratégico de Cooperação, nomeadamente as ciências, tecnologias, engenharia e matemática (CTEM). “Queremos que os estudantes regressem com conhecimentos sólidos e aplicáveis a áreas estratégicas para o desenvolvimento de Moçambique”, refere. Na prática, as áreas mais procuradas têm sido a saúde, as engenharias e a informática.
O Camões I.P gere o programa em estreita articulação com o Instituto de Bolsas de Estudo de Moçambique (IBE), parceiro-chave na recolha, triagem e encaminhamento das candidaturas, bem como no apoio logístico aos bolseiros. “O IBE tem um papel determinante desde a divulgação e abertura do concurso, passando pela recolha dos processos, até ao ingresso dos alunos nas instituições de ensino em Portugal. Assumem, inclusive, o pagamento das viagens”, detalha Helena Guerreiro.
Integração e acompanhamento
Para Helena Guerreiro, a dimensão estratégica do programa vai além da formação académica: “Mais que tudo, este é um instrumento de diplomacia e cooperação cultural, reforçando laços históricos e culturais e contribuindo para a capacitação dos recursos humanos e das instituições moçambicanas.”
Olhando para o futuro, não descarta novas modalidades de apoio, incluindo a integração de regimes digitais ou a expansão de parcerias entre universidades portuguesas e moçambicanas. “As parcerias académicas estão a ganhar cada vez mais dinamismo, com mobilidade de estudantes, docentes, investigadores e projectos conjuntos que têm impacto directo na formação avançada de recursos humanos”, conclui.

Texto: Pedro Cativelos • Fotografia: Mariano Silva






























































