José Sérgio é um fotógrafo moçambicano que carrega uma imensa paixão pelas imagens e um profundo desejo de revelar os talentos da sua terra natal. Reside em Portugal desde 2000. Tem uma carreira construída entre Moçambique e Portugal, em que alia duas coisas: experiência e uma missão clara de inspirar novas gerações de artistas.
Nascido em Maputo em 1970, cresceu no bairro de Sommerschield, onde teve uma infância animada: jogava futebol no Parque dos Continuadores e experimentava outros desportos, como o hóquei em patins. “Eu era um miúdo feliz, como qualquer outro do bairro”, conta à E&M.
Os primeiros passos
Conheceu a fotografia, ainda adolescente, na Associação Cultural Casa Velha, em Maputo. Foi aí que descobriu a magia das imagens, tendo mais tarde completado a sua formação no Centro de Documentação e Formação Fotográfica. Nos anos seguintes, mergulhou no mundo do fotojornalismo e da documentação social. Entre 1989 e 1994, integrou a equipa de fotografia do Instituto Nacional de Desenvolvimento Educacional e, paralelamente, trabalhou como fotojornalista para o jornal Notícias e para o suplemento desportivo Desafio.
Em 1996, ingressou na organização Médicos Sem Fronteiras, onde coordenou projectos de saúde e saneamento e fez a cobertura fotográfica do programa de prevenção e tratamento de cólera.
Um novo (velho) continente
A mudança para Portugal marcou uma nova fase. Primeiro, em Lisboa, depois, no Porto, José continuou a construir uma carreira sólida. Foi fotógrafo da publicação musical Blitz (2000-2006) e do jornal Sol (2006-2015).
José Sérgio quer voltar a Moçambique para partilhar os seus projectos e, sobretudo, para criar algo com os jovens talentos. “Quero ajudar a divulgar a arte moçambicana além-fronteiras”.
Ao trabalhar neste último, envolveu-se num projecto sobre minorias e imigração em Portugal, que lhe valeu o prémio “Pela Diversidade Cultural”, atribuído pelo Alto Comissariado para as Migrações, em 2012, com a reportagem “Uma Orquestra para Todos”, e, novamente, em 2015 com “Estrangeiros, O Que Vêem?”.
Além da prática fotográfica, investiu na formação contínua no Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (CENJOR), onde concluiu cursos de pós-produção digital, edição de vídeo e construção de websites. Esta busca constante por conhecimento e actualização técnica acompanha o seu espírito inquieto e curioso.
Mesmo longe de Moçambique, José mantém um olhar atento sobre os talentos que florescem no País. “Moçambique é rico, tem muitos artistas bons. O que falta é estrutura e meios para mostrar esse talento ao mundo”, afirma. E é nesse potencial que aposta o seu sonho mais profundo: construir algo colectivo.
Fotografia, desafios e esperança
Para o fotógrafo, sonhar é essencial – mas lutar também é. “Não é fácil”, reconhece, dizendo que a sua trajectória foi feita de trabalho “árduo”, mas também de sorte e de escolhas firmes.
José vê na fotografia uma ponte entre tempos. Lembra-se com carinho das madrugadas a revelar filmes, num processo exigente e artesanal. Hoje, com a fotografia digital, reconhece que há maior rapidez de processos, mas insiste em referir que a essência continua a ser a mesma: observar, sentir e narrar com imagens.


Paixões radicais
Além da fotografia, a paixão por desportos radicais — como o pára-quedismo — revela o seu espírito destemido. “Fiz vários saltos em Moçambique. Isso ajudou-me a encarar a vida e a profissão com coragem”, comenta. A família que construiu em Portugal é o seu pilar. Tem dois filhos já adultos, nascidos em solo europeu. Esta estabilidade pessoal é, para ele, base para continuar a investir na arte e nos projectos que idealiza com dedicação. Hoje, como freelancer, colabora com publicações como o Público, e instituições como o Teatro Experimental do Porto e a Casa da Arquitectura.
Regresso com um propósito
Desde 2018, tem-se dedicado também à investigação pessoal sobre temas como imigração, comunidades africanas e afro-descendentes, e as relações entre Portugal e África no actual contexto pós-colonial. Este trabalho já resultou em duas exposições individuais: A “Viagem que Guerra Junqueiro Nunca Fez” (Casa-Museu Guerra Junqueiro, Porto, 2019) e “Presentes! Africanos e Afro-descendentes no Porto” (Mira Fórum, Porto, 2020). Esta última exposição originou o livro homónimo, publicado em 2023.
José Sérgio quer voltar a Moçambique para partilhar os seus projectos e, sobretudo, para criar algo com os jovens talentos. “Quero trabalhar com a juventude, dar-lhes oportunidades e ajudar a divulgar a arte moçambicana além-fronteiras.” Entre o Porto e Maputo, entre memórias e sonhos, José segue a sua jornada destemido — não apenas por si, mas por toda uma geração que sonha transformar imagens em história.



Texto: Germano Ndlovo































































