O Presidente da República Daniel Chapo confirmou que o processo de reversão energética no País terá início em 2030, com o término do contrato de fornecimento de electricidade da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) à empresa sul-africana Eskom, em vigor desde 1979, informou a agência Lusa.
A declaração foi feita durante a cerimónia de comemoração dos 50 anos da HCB, que teve lugar na segunda-feira, 23 de Junho, na província de Tete. Na ocasião, o chefe do Estado sublinhou que a empresa deve consolidar o seu papel no desenvolvimento energético nacional, tendo em conta o novo cenário que se avizinha.
“No ano de 2025, além da implementação de projectos de reabilitação, a HCB, com vista à reversão energética prevista para 2030 — altura em que Moçambique passará a controlar directamente a sua principal fonte de geração de energia com o fim do contrato com a Eskom —, deve reforçar a sua contribuição para o desenvolvimento do País”, afirmou Daniel Chapo.
Este posicionamento já constava da Estratégia para a Transição Energética de Moçambique até 2050, aprovada pelo anterior Governo, então liderado por Filipe Nyusi. Segundo o documento, uma das prioridades a curto prazo é o “repatriamento” da electricidade actualmente exportada para a África do Sul, estimada entre 8 e 10 TWh (TeraWatt-hora), e a adição de 2 GW (GigaWatt) de nova capacidade hidroeléctrica até 2031.
Desde o início das operações em 1979, a HCB tem exportado a maior parte da sua produção para a Eskom, ficando apenas uma parte destinada à Electricidade de Moçambique (EDM). Actualmente, cerca de 300 MW de energia firme e 380 MW de energia variável são fornecidos ao sistema eléctrico nacional.

O contrato de aquisição de energia entre a HCB e a Eskom termina formalmente em 2030. A partir dessa data, o País terá de tomar decisões estruturantes quanto à comercialização e ao destino da energia produzida pela barragem de Cahora Bassa, descrita no documento como uma fonte “limpa e barata”.
O Governo pretende utilizar essa capacidade para aumentar a oferta interna e garantir energia para a industrialização. A fábrica de alumínio da Mozal, localizada nos arredores de Maputo e actualmente alimentada por electricidade fornecida pela Eskom — devido às limitações da rede nacional —, consome cerca de 900 MW e é uma das maiores consumidoras do País. O contrato de fornecimento à Mozal termina em 2026.
A estratégia energética nacional prevê ainda o aumento da capacidade de produção através da nova hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa, com 1,5 GW de potência, e da construção da estação norte da HCB. O Governo estima que, ao longo da próxima década, cerca de 3,5 GW de nova capacidade hidroeléctrica estarão disponíveis para consumo interno.
A estratégia assume os recursos hidroeléctricos como base para uma produção energética de baixo carbono e para a promoção de uma industrialização com menores impactos ambientais, o que é considerado uma prioridade nacional.