A festa da independência de Moçambique ocupava, há 50 anos, as primeiras páginas dos jornais portugueses, que destacavam a figura de Samora Machel e contavam a história deste país africano, que foi uma colónia portuguesa durante meio século.
A Lusa recorda que, a 24 de Junho de 1975, uma fotografia da “entrada triunfal” de Samora Machel em Lourenço Marques (actual Maputo) ocupava parte da primeira página do jornal O Século, na qual se lia em parangonas: “Samora Machel já está”.
Além da foto do então líder da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e primeiro Presidente da República Popular, o Diário publicou uma fotografia do primeiro-ministro de Portugal na altura, Vasco Gonçalves, a caminho do País, onde participou nas cerimónias de proclamação da independência.
O jornal divulgou ainda um boletim do Movimento das Forças Armadas (MFA) dedicado a Moçambique, a par de outras notícias da actualidade, como o entusiasmo dos suecos com o Algarve.
De acordo com a agência portuguesa, outros sinais da liberdade mostravam-se nos anúncios de filmes “picantes”, assim como de filmes da época, como “Os heróis do Kung Fu”, ou ainda da peça de revista protagonizada por Ivone Silva “P´ra trás mija a burra”. A Gulbenkian apresentava “Hamlet”, de William Shakespeare.

No mesmo dia, o Diário de Notícias destacava na sua primeira página a partida de Vasco Gonçalves para Moçambique, citando-o: “Não recebemos lições de ninguém em matéria de descolonização”. “Moçambique no limiar da história” foi o nome de um dos artigos que o matutino dedicou ao jovem País.
A Cimeira de Macau, para a qual não estava garantida a presença de todos os partidos de Timor, e o incêndio nos serviços cartográficos do exército também mereceram nessa edição honras de primeira página.
Espalhados ao longo da publicação, vários anúncios sobre assembleias sindicais revelavam os primeiros passos destas organizações em Portugal. O Jornal de Notícias ocupou a primeira página desse dia com o 47.º concurso das quadras de São João, indicando no interior da edição que “amanhã é o dia da independência” de Moçambique.
“Foi uma lição viva e magnífica de capacidade de entendimento”, afirmou aos jornalistas Vitor Crespo, o último Alto-Comissário e Comandante-Chefe das Forças Armadas em Moçambique, citado no jornal, a propósito do acontecimento.
Em 25 de Junho de 1975, dia da proclamação da independência, Moçambique foi destaque nas primeiras páginas destes três jornais, que ilustraram a cerimónia realizada às primeiras horas do dia no Estádio da Machava, com as imagens de Samora Machel, da comitiva portuguesa e do hastear da bandeira moçambicana.

O Século escreveu, em manchete, “Viva a República Popular de Moçambique”, publicando a fotografia dos pais de Samora Machel a ilustrar um poema do moçambicano Jorge Villa.
No interior, mensagens de júbilo de personalidades portuguesas como Vasco Gonçalves, Álvaro Cunhal ou Mário Soares. Além de reportar a festa da independência em Maputo, e o discurso de Samora Machel, este diário deu conta da festa que os moçambicanos e amigos deste povo fizeram em Lisboa.
No mesmo dia, o Diário de Notícias escreveu na primeira página: “Moçambique independente e livre com o apoio e a ajuda de Portugal”. As fotografias do abraço entre os dois chefes do Governo – Vasco Gonçalves e Joaquim Chissano – e do arrear da bandeira portuguesa, antes do içar da bandeira moçambicana, também foram destacadas.
O jornal apontava ainda o “optimismo prudente” da então Rodésia (actual Zimbabué) e da África do Sul em relação ao novo Estado: “Nos círculos políticos e económicos sul-africanos encara-se com um optimismo prudente o futuro destas relações, ao passo que na Rodésia se teme que os dirigentes da nova República Popular de Moçambique prestem uma assistência apreciável aos nacionalistas desse país controlado pela minoria branca”.
Ao lado, outras notícias lusófonas referem que a “Indonésia não admite que o comunismo se instale no Timor-Leste independente” e que, numa reunião em Bissau, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) estava “a estudar a Constituição de Cabo Verde”.
“Moçambique já é independente”, escreveu nesse dia o Jornal de Notícias, que publica uma foto de Samora Machel e um artigo intitulado “todo o povo em festa, mas a luta continua”. O matutino classificou a independência de Moçambique de “um presente de aniversário” da Frelimo, que em 25 de Junho de 1975 completou 13 anos.
A independência de Moçambique continuou a estar presente nas primeiras páginas destes jornais nos dias seguintes, que reportaram o regresso da comitiva portuguesa e os primeiros desafios da jovem nação africana.
Dois anos depois, a imprensa noticiava o início da guerra civil em Moçambique, que opôs a Frelimo (no poder) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, oposição) e que duraria até 1992.