O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) garante ter chegado, desde Abril, a 26 239 pessoas obrigadas a fugir da violência em Cabo Delgado. O novo balanço, incluído num relatório de protecção à criança, foi publicado nesta segunda-feira (16).
Segundo o documento, 25 554 indivíduos receberam apoio em saúde mental e acompanhamento psicossocial; mais 3558 crianças contam agora com gestão de casos personalizada. Há também 45 menores que, depois de terem estado ligados a grupos armados, passaram a beneficiar de seguimento especializado, e 82 crianças sem companhia de familiares foram reunidas com as respectivas famílias ou colocadas em cuidados alternativos.
A operação cobre todos os distritos da província – rica em gás e fustigada pela insurgência desde 2017 –, dando “forte atenção” à igualdade de género. Rapazes e raparigas estão a ser atendidos em proporções muito próximas, nota o relatório, que dá especial atenção à prevenção da violência baseada no género e do casamento infantil entre adolescentes.
Contudo, continua a haver lacunas sérias. De acordo com o Child Protection Cluster (Protecção à Criança), cerca de 551 mil pessoas ainda precisam de ajuda urgente no Norte do País. Para assistir, pelo menos, 338 mil delas, a Unicef calcula serem necessários perto de 10 milhões de dólares (639,4 milhões de meticais). O trabalho no terreno faz-se em coordenação com 12 organizações locais e internacionais, procurando garantir resposta multissectorial nos distritos considerados prioritários.
Outro problema é a quebra de financiamento. Dados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) mostram que, até final de Abril, apenas 664 mil pessoas – 61% do alvo previsto – haviam recebido algum tipo de auxílio; são menos 17% do que no mesmo período de 2024. “Estas reduções afectam a capacidade de resposta, sobretudo na ajuda multissectorial”, adverte o organismo.
A crise humanitária, que começou em 2017, já provocou milhares de mortos e mais de um milhão de deslocados internos. Desde finais de Abril último, os ataques estenderam-se à vizinha província do Niassa, onde pelo menos dois guardas florestais foram mortos.
A Unicef salienta que, sem um reforço rápido de fundos, os avanços conseguidos desde Abril podem perder-se. “Precisamos mesmo deste apoio extra para manter a protecção e a dignidade de quem já pouco tem”, frisou um técnico que acompanha a missão em Cabo Delgado.
Fonte: Lusa