A economia moçambicana voltou a “encolher” no primeiro trimestre deste ano, registando uma contracção de 3,9%, segundo dados oficiais divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Trata-se do segundo trimestre consecutivo de queda, embora a actual seja menos acentuada do que a de igual período de 2024, quando o País registou um recuo de 5,7%.
O INE atribui este desempenho negativo, sobretudo, aos efeitos persistentes das manifestações pós-eleitorais que marcaram o último trimestre do ano passado. Os protestos afectaram profundamente a actividade económica em várias regiões, com impacto directo sobre o comércio, os serviços e a produção.
O sector secundário foi o mais afectado, com uma quebra de 16,18%. Entre os ramos mais penalizados estiveram a produção e a distribuição de energia, gás e água, que recuaram 22,47%, a indústria transformadora (-14,77%) e a construção civil (-10,77%).
Também o sector terciário registou perdas acentuadas, com um recuo geral de 8,31%. A hotelaria e restauração caíram 21,57%, os transportes e comunicações retraíram 21,33% e o comércio perdeu 18,08%.
O único alívio veio do sector primário, que cresceu 2,09%. Este crescimento foi impulsionado pelas actividades de mineração, que avançaram 6,53%, e pela pesca, que registou um aumento de 1,32%.
Do lado da procura, o consumo privado — que tradicionalmente sustenta boa parte do dinamismo económico — enfraqueceu, contribuindo para uma redução de 0,22% na procura agregada. As exportações também caíram 2,26%, enquanto as importações cresceram 6,11%, o que agravou ainda mais o desequilíbrio da balança comercial.
Face a este contexto adverso, o Governo decidiu rever em baixa a sua previsão de crescimento económico para 2025. A meta inicial de 5% foi corrigida para 2,9%. Recorde-se que, em 2024, a economia nacional cresceu apenas 1,85%, bem abaixo do objectivo dos 5,5% então estabelecido.
A crise social teve igualmente reflexos preocupantes no tecido empresarial. Dados da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) indicam que 955 empresas foram directamente afectadas pelos protestos e actos de vandalismo, acumulando prejuízos superiores a 32,2 mil milhões de meticais (500 milhões de dólares) —, resultando na perda de mais de 17 mil postos de trabalho em todo o País.
O cenário económico continua pressionado por factores internos e externos, e a retoma dependerá de medidas consistentes de estabilização, confiança dos investidores e reforço das políticas públicas orientadas para a recuperação.
Fonte: O País