O filantropo e fundador da Microsoft, Bill Gates, anunciou que irá doar 99% da sua fortuna, actualmente estimada em 12,8 biliões de meticais (200 mil milhões de dólares), para apoiar o desenvolvimento em África, com foco nas áreas da saúde e educação ao longo dos próximos 20 anos. O anúncio foi feito durante um discurso na sede da União Africana, em Addis Abeba, capital da Etiópia.
Segundo um artigo tornado público esta terça-feira, 3 de Junho, pela British Broadcasting Corporation (BBC), Gates declarou que “ao libertar o potencial humano através da saúde e da educação, todos os países de África devem estar no caminho da prosperidade”. De acordo com o empresário, até 2045 toda a fortuna doada será utilizada, altura em que a Fundação Bill & Melinda Gates encerrará as suas operações.
Moçambique está entre os países africanos onde a fundação já opera, e que deverão beneficiar do reforço dos apoios anunciados, especialmente nos sectores de cuidados de saúde primários e educação de base.
A antiga primeira-dama do País, Graça Machel, reagiu positivamente ao anúncio, sublinhando que surge “num momento de crise. Contamos com o compromisso firme do senhor Gates para continuar a trilhar este caminho de transformação ao nosso lado”, afirmou.
Bill Gates destacou que parte essencial da estratégia passa por assegurar a saúde e boa nutrição das mães antes e durante a gravidez, e garantir que as crianças recebam os cuidados adequados nos primeiros quatro anos de vida, uma fase considerada decisiva para o seu futuro.
Durante o mesmo discurso, Gates apelou à juventude africana para explorar o uso da inteligência artificial (IA) na transformação dos sistemas de saúde. Referiu o exemplo do Ruanda, onde já se utilizam tecnologias com IA para identificar gravidezes de alto risco.
Ao libertar o potencial humano através da saúde e da educação, todos os países de África devem estar no caminho da prosperidade
O anúncio ocorre num contexto de redução da ajuda internacional a África, incluindo cortes em programas de combate ao HIV/SIDA, o que levanta preocupações em países como Moçambique, onde o sistema de saúde enfrenta desafios estruturais.
Recentemente, Bill Gates acusou o CEO da Tesla e SpaceX e ex-líder do Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos da America (EUA), Elon Musk, de ser responsável pela morte de diversas crianças portadoras de HIV nos países mais pobres do mundo, incluindo Moçambique.
Musk apoiou o Presidente dos EUA, Donald Trump, no processo de desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), facto que tem gerado preocupações significativas em relação ao futuro da assistência no mundo. A justificação apresentada é a redução da despesa governamental e a integração das funções da USAID no Departamento do Estado, liderado pelo secretário Marco Rubio.
Os EUA são responsáveis por aproximadamente 40% do total da ajuda e apoio humanitário global, sendo um dos principais financiadores de programas de desenvolvimento, especialmente no continente africano.
Mesmo após a doação de 99% da sua fortuna, Gates deverá continuar entre os homens mais ricos do mundo. No entanto, para países como Moçambique, a promessa representa uma oportunidade concreta de investimento em sectores cruciais para o futuro do País, num momento em que o reforço da cooperação internacional se mostra indispensável.