O presidente da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), Tomás Matola, alertou que o “risco político de Moçambique” pode encarecer o acesso ao financiamento para desenvolver os projectos de energia necessários para responder à procura interna e regional.
Numa entrevista à Lusa, à margem da 2.ª Conferência de Energia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o responsável avançou que a instabilidade verificada nos últimos meses no País “dificulta” a realização de muitas iniciativas, algumas das quais que dependem da participação da Cahora Bassa.
“Ainda vamos sentir o impacto, pois devemos ir aos mercados para mobilizar fundos para financiar os nossos projectos e os mercados são exigentes, no que diz respeito à identificação dos riscos associados aos projectos, e nisso o risco País é determinante, e é o primeiro a que os investidores olham”, explicou.
Matola detalhou que “quando um determinado país está na situação em que Moçambique se encontra, com alguns polos de conflitos, verifica-se o aumento da taxa de juro, ou seja, os investidores adicionam o prémio de risco político. E isso encarece o financiamento o que pode pôr em risco a execução de alguns projectos”.
O responsável sublinhou que “o actual Governo está focado, a trabalhar arduamente para amenizar a situação política”. “A crise resultante das últimas eleições gerais no País, já está praticamente resolvida, depois dos dois encontros que aconteceram entre o Presidente Daniel Chapo, e o segundo candidato presidencial mais votado, Venâncio Mondlane”.

A 2.ª Conferência de Energia da CPLP aconteceu entre terça e quarta-feira (27 e 28 de Maio) no Estoril, em Portugal, sob o lema “Impulsionando uma Transição Energética Resiliente, Sustentável e Inclusiva para a CPLP”, sendo um ponto de encontro de governantes, financiadores, empresários e especialistas do sector de energia.
A HCB celebra este 50 anos de existência e é uma das maiores infra-estruturas de geração de energia da África Austral. A empresa foi criada durante o período colonial português, com a construção da barragem entre 1969 e 1 de Junho de 1974. O enchimento da albufeira teve início logo após a conclusão da estrutura, e a operação comercial arrancou em 1977, com a entrada em funcionamento dos primeiros três geradores e uma potência de 960 MW. Actualmente, a capacidade instalada é de 2075 MW.
Instalada numa estreita garganta do rio Zambeze, a albufeira de Cahora Bassa é a quarta maior do continente africano, com cerca de 270 quilómetros de comprimento, 30 quilómetros de largura máxima e uma área total de 2700 quilómetros quadrados. A profundidade média ronda os 26 metros.
Actualmente, a HCB é uma sociedade anónima de direito privado, detida em 85% pela estatal Companhia Eléctrica do Zambeze, 7,5% pela portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN), 3,5% de acções próprias e 4% distribuídos por cidadãos, empresas e instituições moçambicanas.
A central emprega actualmente cerca de 800 trabalhadores e é considerada uma peça-chave no fornecimento de energia eléctrica ao País e à região, incluindo grandes consumidores como a Mozal, bem como operadoras energéticas de países vizinhos como África do Sul e Zimbabué, através da rede regional SAPP (Southern African Power Pool).