O Presidente da República, Daniel Chapo, afirmou esta quarta-feira (21), em Maputo, que o Governo pretende reforçar a exploração do potencial hidroeléctrico do rio Zambeze, responsável por cerca de 80% da capacidade nacional de produção de energia a partir de fontes hídricas. A declaração foi feita na abertura da Conferência Internacional dos 50 anos da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), sob o lema “Ontem, Hoje e o Futuro – Uma Empresa Estratégica”.
“O rio Zambeze concentra cerca de 80% da capacidade hidroeléctrica do País, com impactos estruturantes sobre as economias locais”, disse o chefe do Estado, ao realçar a importância da bacia hidrográfica no sistema energético nacional e na estabilidade regional.
Segundo o Presidente, o Governo tem em curso iniciativas que visam a expansão e modernização do sistema de geração e transporte de energia, com destaque para a Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa — projecto actualmente em fase de consultas comunitárias — que poderá adicionar mais de 1500 megawatts (MW) de capacidade ao sistema eléctrico nacional.
Além deste, estão também previstos os aproveitamentos de Boroma, Lupata e Chemba, todos na mesma bacia do Zambeze. O objectivo, segundo Chapo, é garantir “maior fiabilidade, disponibilidade e sustentabilidade” na oferta de energia, em resposta à crescente procura interna e regional.
Durante a sua intervenção, o chefe do Estado sublinhou ainda a importância de diversificar a matriz energética nacional, destacando os investimentos em energias renováveis, nomeadamente solar, eólica, biomassa e térmica, em diferentes pontos do território. “Sentimos que estamos a testemunhar uma expansão significativa em todo o sector energético, com um foco crescente numa variedade de fontes renováveis”, afirmou.
O Presidente referiu também que estudos recentes, como o Africa Energy Outlook 2024, apontam Moçambique como responsável por cerca de 20% da futura produção energética do continente africano até 2040, com uma capacidade projectada de até 187 gigawatts. Este posicionamento poderá colocar o País entre os dez maiores produtores mundiais de energia.

Relevância histórica da HCB
A Conferência decorre no âmbito da celebração dos 50 anos da HCB, uma das maiores infra-estruturas de geração de energia da África Austral. A empresa foi criada durante o período colonial português, com a construção da barragem entre 1969 e 1 de Junho de 1974. O enchimento da albufeira teve início logo após a conclusão da estrutura, e a operação comercial arrancou em 1977, com a entrada em funcionamento dos primeiros três geradores e uma potência de 960 MW. Actualmente, a capacidade instalada é de 2075 MW.
Instalada numa estreita garganta do rio Zambeze, a albufeira de Cahora Bassa é a quarta maior do continente africano, com cerca de 270 quilómetros de comprimento, 30 quilómetros de largura máxima e uma área total de 2700 quilómetros quadrados. A profundidade média ronda os 26 metros.
A HCB é hoje uma sociedade anónima de direito privado, detida em 85% pela estatal Companhia Eléctrica do Zambeze, 7,5% pela portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN), 3,5% de acções próprias e 4% distribuídos por cidadãos, empresas e instituições moçambicanas.
A central emprega actualmente cerca de 800 trabalhadores e é considerada uma peça-chave no fornecimento de energia eléctrica ao País e à região, incluindo grandes consumidores como a Mozal, bem como operadoras energéticas de países vizinhos como África do Sul e Zimbabué, através da rede regional SAPP (Southern African Power Pool).
A conferência prossegue com debates sobre o papel das centrais eléctricas no desenvolvimento económico regional, os desafios das mudanças climáticas e as oportunidades de cooperação no sector energético da África Austral.
Texto: Felisberto Ruco