O Presidente angolano, João Lourenço, anunciou nesta terça-feira (20), uma contribuição de 8 milhões de dólares para a Organização Mundial da Saúde (OMS), no âmbito da operação de investimentos promovida pela agência das Nações Unidas, informou a Lusa.
“Angola tem a honra de se juntar aos 14 países africanos que já prometeram contribuições para a ronda de investimentos da OMS e tem o prazer de anunciar uma doação de 8 milhões de dólares”, declarou o governante, que falava, segunda-feira, como presidente em exercício da União Africana (UA) na 78.ª Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, Suíça.
Na sua intervenção, o chefe de Estado defendeu o reforço do financiamento da OMS, sublinhando que a organização continua a ser um “parceiro essencial” para a maioria dos países africanos, com programas técnicos, sistemas de alerta precoce e operações no terreno que “não podem ser postas em causa por indefinições de natureza financeira e muito menos política.”
Lourenço também criticou o actual modelo de financiamento da organização, salientando que apenas 18% do orçamento da instituição provém de doações fixas e previsíveis. “A África está unida em apoio à proposta do aumento das contribuições fixas, porque apostar na OMS não constitui um acto inútil, mas sim um investimento estratégico no futuro da Humanidade”, reforçou.
O Presidente angolano saudou ainda o consenso em torno do novo Acordo Pandémico da OMS e destacou os avanços registados em Angola no sector da saúde nos últimos oito anos, apontando a redução da mortalidade materna e infantil, a duplicação da rede de unidades sanitárias e o investimento na formação de profissionais.
O dirigente defendeu, por outro lado, a produção de medicamentos e vacinas em África, lembrando que a pandemia de covid-19 mostrou as consequências “catastróficas de depender de cadeias de suprimentos distantes”, anunciando o apoio de Angola ao Acelerador de Fabricação de Vacinas de África. Exortou, por isso, os parceiros multilaterais, como o Banco Mundial, a Aliança de Vacinas e o Fundo Global, a adaptarem os seus modelos para apoiar sistemas liderados pelo continente africano, apelando à eliminação de barreiras artificiais que dificultam o financiamento directo a instituições como o Centro Africano para Controlo e Prevenção de Doenças.
Entretanto, o Presidente alertou para a crise de saúde pública vivida no continente, com um aumento de 41% nas emergências entre 2022-24 e uma quebra de mais de 70% na ajuda ao desenvolvimento: “África suporta 25% do fardo global da doenças, mas recebe apenas 1% da despesa global com a saúde. A crise no continente não é de capacidade ou de conhecimento; é uma crise de exclusão do financiamento, da tomada de decisões, da tecnologia e da solidariedade global.”
Defendendo o uso de financiamento climático para apoiar a resiliência dos sistemas de saúde, no contexto de surtos crescentes de doenças como a cólera, agravados por cheias e secas, João Lourenço propôs também a criação de um Fundo Africano para Pandemias.
O governante pediu ainda à comunidade internacional para que reforce o compromisso com a OMS, não apenas com recursos financeiros, mas também com responsabilidade moral e compromisso político. “Que esta assembleia seja lembrada não pela sua retórica, mas pela sua determinação em salvar vidas”, concluiu.