Angola produz actualmente 91% da sua energia a partir de fontes renováveis, com 87% provenientes da matriz hídrica e 4% de fontes solares, segundo Daniel Catata Catumbela, administrador-executivo da Empresa Pública de Produção de Electricidade de Angola (PRODEL-EP), que falava durante a Conferência Internacional dos 50 Anos da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), realizada esta quarta-feira (21), em Maputo.
Na ocasião, Catumbela destacou os avanços registados no sector energético angolano, nomeadamente a transição para uma matriz energética mais limpa, redução de custos operacionais e ampliação da capacidade instalada.
“Hoje temos dois benefícios: maior oferta e menos custos operacionais”, afirmou, sublinhando que o consumo de combustível caiu de 1,3 mil milhões de litros em 2015 para 430 milhões de litros actualmente.
Segundo o responsável, a capacidade hídrica instalada em Angola representa hoje 60,37% da matriz energética total, invertendo o cenário de 2015, quando a energia térmica dominava com 61,12%. A capacidade total instalada é de 6284 megawatts (MW) e o potencial hídrico do país está estimado em 18 mil MW.
O maior contributo para este avanço vem do rio Kwanza, onde se localizam centrais como Capanda (520 MW), Pelaú (2070 MW), Cambambe (960 MW) e a futura central de Capuca Baça, que terá 2172 MW e começará a gerar energia no último trimestre de 2026.
Apesar dos progressos, a taxa de electrificação nacional ainda é de apenas 44%. “O objectivo é atingir os 50% até 2027, com foco na expansão do acesso à energia limpa, incluindo sistemas fotovoltaicos para zonas remotas”, explicou Catumbela.
“A capacidade hídrica instalada em Angola representa hoje 60,37% da matriz energética total, invertendo o cenário de 2015, quando a energia térmica dominava com 61,12%”
O administrador-executivo da PRODEL referiu ainda a necessidade de tornar o sector mais sustentável financeiramente. “Actualmente temos três empresas distintas: a PRODEL na produção, a Rede Nacional no transporte e a Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade na distribuição. Mas todos os investimentos foram públicos. É hora de garantir a autonomia e eficiência destas empresas”, sublinhou.
A conferência internacional dos 50 anos da HCB decorreu sob o lema “Ontem, Hoje e o Futuro: Empresa Estruturante e Estratégica”, e contou com a intervenção de vários especialistas e decisores, incluindo representantes de Angola, África do Sul e outros países da região.
A HCB foi criada durante o período colonial português, com a construção da barragem entre 1969 e 1 de Junho de 1974. O enchimento da albufeira teve início logo após a conclusão da estrutura, e a operação comercial arrancou em 1977, com a entrada em funcionamento dos primeiros três geradores e uma potência de 960 MW. Actualmente, a capacidade instalada é de 2075 MW.

Instalada numa estreita garganta do rio Zambeze, a albufeira de Cahora Bassa é a quarta maior do continente africano, com cerca de 270 quilómetros de comprimento, 30 quilómetros de largura máxima e uma área total de 2700 quilómetros quadrados. A profundidade média ronda os 26 metros.
A HCB é hoje uma sociedade anónima de direito privado, detida em 85% pela estatal Companhia Eléctrica do Zambeze, 7,5% pela portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN), 3,5% de acções próprias e 4% distribuídos por cidadãos, empresas e instituições moçambicanas.
A central emprega actualmente cerca de 800 trabalhadores e é considerada uma peça-chave no fornecimento de energia eléctrica ao País e à região, incluindo grandes consumidores como a Mozal, bem como operadoras energéticas de países vizinhos como África do Sul e Zimbabué, através da rede regional SAPP (Southern African Power Pool).
A conferência prossegue com debates sobre o papel das centrais eléctricas no desenvolvimento económico regional, os desafios das mudanças climáticas e as oportunidades de cooperação no sector energético da África Austral.
Texto: Florença Nhabinde