A multinacional francesa TotalEnergies revelou que vai pedir a aprovação do Executivo moçambicano para suspender a declaração de “força maior” no seu projecto de gás natural liquefeito (GNL) localizado na área 1 da bacia do Rovuma, na província de cabo Delgado, na região Norte de Moçambique.
Com um investimento global estimado em 20 mil milhões de dólares (1,2 bilião de meticais), o projecto foi interrompido em 2021 na sequência de uma vaga de ataques insurgentes nas imediações da vila de Palma, o que levou à declaração de “força maior”.
Numa publicação da Reuters, o CEO da petrolífera, Patrick Pouyanné, avançou que, pelos cálculos feitos, a estimativa é retomar as actividades até meados do próximo Verão, sublinhando que a situação de instabilidade já foi resolvida.
“A situação de segurança melhorou, portanto, caberá ao Governo de Moçambique aprovar o fim desta ‘força maior’”, acrescentou o responsável à margem da Conferência Mundial do Gás.
Embora a conclusão inicial do projecto estivesse prevista para 2027, a necessidade de reaprovação dos financiamentos poderá estender o prazo para entre 2029 e 2030. O processo envolve ainda compromissos de outras agências de crédito à exportação, nomeadamente do Reino Unido e dos Países Baixos, cujas decisões são consideradas cruciais para a consolidação do financiamento internacional.

A decisão de retomar o projecto foi influenciada pela melhoria significativa das condições de segurança em Cabo Delgado, resultado de operações conjuntas entre as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, tropas da SADC e contingentes militares do Ruanda. A TotalEnergies tem mantido um diálogo constante com as autoridades nacionais, de modo a assegurar uma retoma que privilegie a estabilidade e a sustentabilidade.
O Mozambique LNG, considerado um dos maiores projectos de gás natural liquefeito em África, deverá atingir uma capacidade de produção anual de 12,8 milhões de toneladas na sua fase inicial. A sua concretização é vista como um marco estratégico para a economia moçambicana, com potencial para gerar receitas avultadas e posicionar o País como um actor relevante no panorama energético internacional.
O projecto Mozambique LNG inclui o desenvolvimento dos campos Golfinho e Atum localizados na Área 1 Offshore e a construção de uma fábrica com duas unidades de liquefacção com capacidade de 13,1 milhões de toneladas por ano. A Área 1 contém mais de 60 Tcf de recursos de gás, dos quais 18 Tcf serão desenvolvidos com as duas primeiras unidades de liquefacção.
A Total E&P Mozambique Area 1, Ltd, uma subsidiária integral da TotalEnergies, opera o projecto Mozambique LNG com uma participação de 26,5%, juntamente com a ENH Rovuma Area 1, S.A. (15%), a Mitsui E&P Mozambique Area 1 Limited (20%), a ONGC Videsh Rovuma Limited (10%), a Beas Rovuma Energy Mozambique Limited (10%), a BPRL Ventures Mozambique B.V. (10%), e a PTTEP Mozambique Area 1 Limited (8.5%).
“A situação de segurança melhorou, portanto, caberá ao Governo de Moçambique aprovar o fim desta força maior”
Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, todas localizadas ao largo da costa da província de Cabo Delgado. Dois desses projectos têm maior dimensão e prevêem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para depois o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após o ataque armado a Palma, em Março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona fosse segura. O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).
Um terceiro projecto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, directamente no mar, que arrancou em Novembro de 2022.