O analista e editor sul-africano Terence Creamer fez um alerta sobre a nova política energética da África do Sul, que poderá colocar em risco o papel de Moçambique enquanto fornecedor estratégico de gás natural para a região, com potencial perda de receitas e desvio de investimentos para infra-estruturas domésticas de gás natural liquefeito (GNL).
Num artigo de opinião publicado pela Creamer Media, Creamer considera “preocupante” a recente decisão do ministro da Electricidade e Energia sul-africano, Kgosientsho Ramokgopa, de aumentar o factor de carga das futuras centrais de gás natural de 25% para mais de 50%, alterando substancialmente o modelo energético inicialmente previsto para esse segmento.
Segundo o analista, esta mudança visa, em grande medida, atrair investidores para desenvolver infra-estruturas de importação e transporte de GNL dentro da África do Sul, evitando a dependência de fontes externas, nomeadamente dos campos de Pande e Temane, em Moçambique. Estas jazidas, actualmente operadas pela Sasol, têm sido a principal origem do gás canalizado para os centros industriais de Gauteng e KwaZulu-Natal, mas encontram-se em fase de declínio.
De acordo com Creamer, a nova estratégia energética não se limita a questões técnicas, mas visa criar “segurança de procura” para justificar o investimento privado sul-africano em infra-estruturas internas de GNL. “Isso significa menos espaço para o gás moçambicano nas futuras cadeias de abastecimento regionais”, afirmou.
O jornalista observa ainda que não houve debate público nem consulta técnica alargada sobre o impacto económico da medida, que implica maior exposição cambial, custos acrescidos para os consumidores e desvalorização de fontes energéticas mais baratas, como a solar e a eólica.
Ao abandonar o modelo de geração flexível e de menor custo, adoptado inicialmente para as centrais a gás, a África do Sul poderá consolidar um sistema mais caro e menos eficiente, com consequências também para os países vizinhos que dependem do mercado sul-africano para as suas exportações energéticas.
Creamer conclui que, embora a intenção de criar autonomia energética seja legítima, a forma como a decisão foi tomada — sem transparência, sem consulta aos parceiros regionais e com forte influência de interesses empresariais ligados ao sector do gás — levanta sérias dúvidas sobre a sustentabilidade da nova política e o seu impacto no equilíbrio energético da região austral de África.
A Creamer Media é uma das principais plataformas de jornalismo económico e industrial da África Austral, especializada nos sectores da energia, mineração e infra-estruturas.
A sua publicação de referência, Engineering News, é amplamente utilizada por decisores políticos, investidores e empresas para acompanhar mudanças estratégicas nos mercados da região. Terence Creamer, editor de Energia, é considerado uma das vozes mais influentes no acompanhamento da transição energética no contexto sul-africano.
Fonte: Engineering News