A recente implementação de uma nova política comercial pelos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, marcou uma inflexão significativa nas dinâmicas do comércio internacional. A introdução de tarifas de importação, com o objectivo declarado de proteger a economia doméstica e de reforçar a segurança nacional, ascendeu ao centro das relações económicas globais, reverberando tanto nos parceiros comerciais dos EUA quanto nos seus próprios consumidores.
A 2 de Abril de 2025, o anúncio do “Liberation Day” (Dia da Libertação) por Trump formalizou a instauração de um novo regime de tarifas recíprocas, visando salvaguardar a indústria norte-americana e corrigir desequilíbrios comerciais preexistentes. Esta medida estabeleceu uma tarifa-base de 10% sobre todas as importações, com excepção do Canadá e do México, que já estavam sujeitos a tarifas de 25%. Adicionalmente, foram impostas tarifas suplementares a cerca de 60 países, moduladas, segundo a administração Trump, em função das barreiras comerciais que estes impõem aos produtos norte-americanos, políticas de manipulação cambial e outros motivos. As tarifas propostas incluíram um aumento para 34% (acima dos 20% já em vigor) sobre a China, 30% sobre as importações da África do Sul, 20% sobre todas as importações provenientes da União Europeia e 16% sobre as importações de Moçambique, entre outros países com taxas a variarem entre 10% e 50%.
Com a implementação destas políticas, os Estados Unidos atingiram o nível médio de tarifas mais elevado nos últimos 80 anos. Apesar da intenção explícita de proteger a indústria nacional e reduzir o défice comercial, os efeitos secundários destas medidas incluem um agravamento de tensões diplomáticas e a eclosão de retaliações comerciais. A União Europeia, por exemplo, respondeu prontamente com a imposição de tarifas sobre produtos como o aço e o alumínio, desencadeando um ciclo de conflitos comerciais com implicações significativas para consumidores e exportadores de ambos os lados do Atlântico.
O aumento das tarifas teve um impacto directo em diversos sectores da economia, abrangendo a indústria tecnológica, os bens de consumo e os electrodomésticos. Embora a medida vise estimular a produção nacional e diminuir a dependência de produtos estrangeiros, a consequência imediata é o aumento dos preços para os consumidores americanos, que agora enfrentam um custo mais elevado para adquirir bens importados. Estimativas da Bloomberg indicam que as famílias americanas poderão arcar com um custo médio adicional de até USD 2000 por ano.

A reacção dos mercados financeiros globais ao anúncio e implementação das tarifas americanas foi inequivocamente negativa. As bolsas de valores mundiais registaram quedas acentuadas, acompanhadas pela depreciação dos preços das matérias-primas. No dia 3 de Abril, o índice Dow Jones Industrial Average (DJIA) sofreu uma perda de 1679 pontos (3,98%), o S&P 500 recuou 6,65% e o Nasdaq Composite perdeu 1600 pontos, representando o pior desempenho desde o início da pandemia de covid-19. No dia seguinte, a 4 de Abril, a China anunciou tarifas retaliatórias de 34% sobre produtos americanos, o que levou a uma nova queda do Dow Jones em 2231 pontos (5,5%), totalizando uma perda superior a 4000 pontos em apenas dois dias. Esta queda abrupta representou uma perda de mais de USD 6,6 triliões em valor de mercado, configurando a maior perda de dois dias na história do índice.
“Não obstante a sua posição periférica face ao epicentro do conflito tarifário, as novas políticas comerciais dos EUA têm potencial para afectar a economia moçambicana através de mecanismos indirectos”
Perante a turbulência nos mercados de equity e um sell-off da dívida norte-americana e consequente subida das taxas de juro, Trump anunciou uma suspensão temporária das tarifas anteriormente anunciadas, fixando-as em 10% por um período de 90 dias, excepto para a China, que, na sequência de um escalar das tensões, lida com tarifas que ascendem agora a 145%.
No que concerne a Moçambique, um país cuja pauta de exportações para os EUA é predominantemente composta por produtos agrícolas, o impacto directo das novas tarifas parece, à primeira vista, limitado. O aumento da tarifa de 10% para 16%, aliado ao facto de o País não ser um exportador significativo para os EUA (em comparação com outros destinos) e à tendência decrescente desse volume 124,3 milhões de dólares em 2022, 113,9 milhões de dólares em 2023 e 96,5 milhões de dólares em 2024), sugere um impacto imediato atenuado. No entanto, o aumento tarifário pode exacerbar ainda mais esta tendência de declínio ou mesmo inviabilizar as exportações moçambicanas para os Estados Unidos.
Não obstante a sua posição periférica face ao epicentro do conflito tarifário, as novas políticas comerciais dos EUA têm potencial para afectar a economia moçambicana através de mecanismos indirectos, nomeadamente no âmbito do comércio global, dos fluxos de investimento e das cadeias de abastecimento internacionais. A vulnerabilidade da economia moçambicana a choques externos torna crucial um acompanhamento atento da evolução das políticas comerciais globais. É imperativo que o País se prepare para mitigar potenciais impactos negativos, ao mesmo tempo que procura identificar e capitalizar quaisquer oportunidades emergentes neste novo cenário económico internacional.