O Governo prevê um aumento de 20% na produção de grafite destinada à indústria de baterias para automóveis eléctricos, embora este crescimento não seja ainda suficiente para recuperar os níveis registados antes de 2024, segundo dados constantes da proposta orçamental compilados esta segunda-feira pela agência Lusa.
De acordo com a proposta de Lei relativa ao Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) para 2025, actualmente em análise na Assembleia da República, o Governo estima uma produção de 41,8 mil toneladas de grafite ao longo deste ano. Esta previsão representa uma recuperação parcial da quebra de 64% verificada em 2024, ano em que a produção caiu para 34,8 mil toneladas.
Em 2023, a produção atingiu 97,3 mil toneladas, após o recorde de 165,9 mil toneladas registado em 2022. Em 2021, o volume situou-se nas 77,1 mil toneladas, segundo dados oficiais.
“Para a grafite, a previsão de crescimento é de 20%. Este aumento deve-se à entrada em operação da empresa DH Mining, no Niassa”, lê-se na proposta orçamental, referindo-se ao início da actividade de uma empresa chinesa no distrito de Nipepe, a 5 de Maio. Quando atingir a plena capacidade, a mineradora estima extrair até 200 mil toneladas por ano.
Entretanto, a empresa australiana Syrah anunciou, no dia 6 de Maio, a recuperação do acesso à mina de grafite que opera em Balama, na província de Cabo Delgado, cerca de cinco meses depois de declarar “força maior” devido à intensificação dos protestos pós-eleitorais. Durante este período, a mina esteve inactiva, acumulando três trimestres sem qualquer exportação do minério.
Para a grafite, a previsão de crescimento é de 20%. Este aumento deve-se à entrada em operação da empresa DH Mining, no Niassa.
Num comunicado dirigido aos mercados, a Syrah informou que os protestos junto à mina cessaram, após a intervenção das autoridades moçambicanas, que removeram os últimos “manifestantes ilegais” do local.
“Na sequência de um acordo formal celebrado entre agricultores, autoridades governamentais e a empresa, a maioria dos manifestantes interrompeu os protestos em Balama em Abril de 2025. Um pequeno grupo de pessoas continuou a bloquear o acesso sem apresentar qualquer queixa legítima contra a Syrah”, refere a empresa no mesmo comunicado.
A mineradora australiana encontra-se agora a mobilizar equipas de apoio para o local, com vista à realização de inspecções e operações de manutenção, prometendo divulgar em breve informações sobre o reinício das operações e os primeiros embarques de grafite.
Recorde-se que a 12 de Dezembro de 2024, a Syrah declarou “força maior” devido ao agravamento das manifestações contestando os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro. Os protestos provocaram cerca de 400 mortos, bem como a destruição de infra-estruturas públicas e privadas, afectando significativamente a actividade da empresa em Moçambique.
Na sequência de um acordo formal celebrado entre agricultores, autoridades governamentais e a empresa, a maioria dos manifestantes interrompeu os protestos em Balama em Abril de 2025. Um pequeno grupo de pessoas continuou a bloquear o acesso sem apresentar qualquer queixa legítima contra a Syrah
O termo jurídico “força maior” refere-se a eventos externos, imprevisíveis e inevitáveis que impedem o cumprimento de obrigações contratuais.
A Syrah encontra-se igualmente a construir, nos Estados Unidos da América, uma fábrica de materiais para baterias — denominada Vidalia — que será abastecida com grafite moçambicana. Em Abril do ano passado, a empresa enviou duas toneladas do minério para esse efeito.
A produção de grafite para baterias de veículos eléctricos recuou 64% em 2024, fixando-se nas 34 899 toneladas — um dos níveis mais baixos dos últimos anos — segundo dados governamentais divulgados pela Lusa em Fevereiro.
O Relatório de Execução Orçamental do Ministério das Finanças, referente a 2024, indica que esta queda correspondeu a apenas 11% da meta anual de 329 mil toneladas e deveu-se, essencialmente, à paralisação das operações da GK Ancuabe Graphite Mine em 2023.
“A redução foi também influenciada pela interrupção das actividades da empresa Twigg Mining and Exploration (do grupo australiano Syrah), face à crescente presença de grafite sintética no mercado internacional, agravada por conflitos laborais que culminaram com a suspensão das actividades mineiras”, refere o documento.