O director-geral da plataforma do projecto Coral Sul-FLNG , Alfonso Pagano, revelou, na sua intervenção na 11.ª Conferência e Exposição de Mineração e Energia de Moçambique (MMEC 2025), que o mesmo deverá injectar mais de 15 mil milhões de dólares (960 mil milhões de meticais) na economia nacional “ao longo da sua vida útil”.
“O Coral Sul é, sem dúvida, um sucesso colectivo, resultado da colaboração entre múltiplos intervenientes internacionais e nacionais”, afirmou Pagano perante uma audiência composta por ministros, delegados e representantes do sector energético africano.
Pagano destacou que, só em 2023, o projecto contribuiu com cerca de metade do crescimento económico registado em Moçambique, numa altura em que a Moody’s estimava um crescimento do PIB na ordem dos 6,5%.
“É um impacto que não pode ser ignorado. O Coral Sul não só garantiu estabilidade na produção, como também tem gerado resultados económicos concretos para o País”, sublinhou.
Com um investimento superior a 7 mil milhões de dólares (448 mil milhões de meticais), o projecto atingiu todos os marcos estratégicos dentro dos prazos e orçamentos inicialmente definidos, mesmo perante desafios como a pandemia da covid-19. Para Pagano, trata-se de um feito raro na indústria de megaprojectos energéticos: “Desde a assinatura da decisão final de investimento, em 2017, mantivemos o rumo. Mesmo perante imprevistos, não houve derrapagens nem de calendário, nem de custo”, garantiu.
A nível operacional, a plataforma produziu já 7,3 milhões de toneladas de gás liquefeito, mantendo uma taxa de regularidade “que impressiona até os mais experientes no sector”. Em termos de segurança, o Coral Sul alcançou um recorde de zero incidentes registáveis em mais de um ano de operação contínua. “Não estamos a falar apenas de ausência de feridos graves, mas da ausência total de incidentes, algo praticamente inédito nesta indústria”, frisou o responsável.
Para além da tecnologia, o projecto destaca-se pela sua aposta no conteúdo local. Actualmente, mais de 800 moçambicanos estão directamente envolvidos nas operações do Coral Sul – 300 trabalhadores integrados na estrutura da empresa e outros 500 por via de subcontratação.
“No início, não havia qualificação técnica suficiente no País. Tivemos de investir na formação. Hoje, já formámos 200 moçambicanos, 120 deles jovens recém-saídos da universidade”, revelou Pagano.
“Fizemos um esforço deliberado para capacitar empresas moçambicanas e explicar-lhes os processos para aceder aos concursos. O objectivo é criar valor sustentável.”
O projecto está também a preparar os primeiros operadores moçambicanos de GNL, com parte dos formandos a receber treino prático a bordo e outros enviados a Itália para formação técnica avançada.
Na componente empresarial, mais de 100 contratos operacionais foram atribuídos a empresas locais, sendo que 39% do valor contratual adjudicado está nas mãos de firmas controladas por moçambicanos. Pagano deixou claro que não se trata apenas de números: “Fizemos um esforço deliberado para capacitar empresas moçambicanas e explicar-lhes os processos para aceder aos concursos. O objectivo é criar valor sustentável.”
Num dos momentos mais ovacionados da sua intervenção, o director da plataforma destacou a importância da colaboração internacional e da renúncia aos interesses individuais em prol de uma visão colectiva: “Nenhum país, isoladamente, poderia ter concretizado um projecto desta envergadura. Coral Sul é o resultado de um compromisso real, em que todos tiveram de ceder para construir algo maior.”
Por fim, Pagano lembrou que o projecto inclui ainda iniciativas sociais e comunitárias, como o fornecimento de equipamento médico ao Hospital de Pemba e programas de acesso à educação que já beneficiaram mais de quatro mil pessoas.
“Estes projectos paralelos são tão importantes quanto a produção de gás. São eles que garantem que o desenvolvimento gerado pelo Coral Sul chega às comunidades locais”, concluiu.
Texto: Felisberto Ruco