A Associação Comercial da Beira (ACB), liderada por Félix Machado, fez duras críticas ao processo eleitoral da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), considerando-o “vergonhoso”. O empresário, citado pela Carta de Moçambique, acusou alguns concorrentes de priorizarem interesses pessoais em vez do bem da economia nacional.
Segundo Machado, o processo revela tentativas de sabotagem para benefício próprio, o que contraria os princípios da CTA. “Caso esta situação não seja resolvida, a ACB não vai participar do pleito”, declarou.
O líder da ACB disse sentir vergonha e tristeza com o cenário actual da CTA. “Os associados estão tristes com o que está a acontecer. Não entendem como o sector privado mostra incapacidade para liderar processos eleitorais internos”, lamentou.
Para tentar resolver o impasse, a ACB sugeriu, por carta, a realização de uma assembleia geral extraordinária. A proposta foi rejeitada, alegadamente porque a maioria das associações (130 de 194) está localizada na zona sul do País.
Mesmo assim, a ACB pretende reapresentar a proposta de assembleia-geral extraordinária. Segundo Machado, o actual modelo de eleição do presidente da CTA “é imperfeito e propicia a corrupção”, motivo pelo qual deve ser revisto.
“O modelo actual de eleições da CTA não é representativo”
O empresário criticou o sistema que exige cartas de apoio antecipadas, dizendo que isso permite a compra de votos. “Por isso tivemos o pagamento de quotas. Significa, por si só, um voto antecipado”, afirmou.
Machado foi mais longe e declarou que “o modelo actual não é representativo” e que “a CTA é vista como a incubadora de bandidos, porque é um cartel que quer controlar a agremiação”. Por isso, a ACB recusará participar nas eleições.
“A ACB vai distanciar-se totalmente deste processo eleitoral porque não é justo, não é correcto e é vergonhoso”, disse o responsável, tendo lamentado ainda que existam empresários a apoiar este modelo, afirmando que “é o modus operandi” de alguns.
O líder da ACB atribui este apoio ao interesse de estar próximo do Presidente da República, para obter benefícios pessoais. “Muita gente quer estar aí para procurar oportunidades para si e depois vendê-las”, criticou.
O responsável da ACB denunciou ainda o interesse em gerir fundos, como os da Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional, e obter salários. “Na CTA há salários, diferentemente das associações como a nossa em que não há salários”, explicou o empresário.

O responsável disse que o lobby dentro da CTA é tão forte que chega a influenciar a elaboração de leis. “Em todas as leis que são aprovadas há sempre um lobby, por isso várias vezes não têm enquadramento no terreno”, disse.
O responsável acusou a CTA de estar capturada por lobistas e defendeu que “o Governo deveria suspender temporariamente o diálogo com a CTA” até que os problemas internos sejam resolvidos uma vez que considera que a entidade perdeu credibilidade.
Recentemente, a ACB aprovou, em sessão extraordinária, a criação da Federação Provincial do Sector Privado em Sofala, para fortalecer a representação local, e outras províncias poderão também seguir este caminho.
A ideia é que províncias como Manica, Tete e Zambézia criem as suas federações provinciais e, futuramente, formem uma Confederação Regional Centro. A proposta visa reforçar a estrutura do sector privado fora da capital.
A crise foi agravada após a CTA proibir a candidatura de Álvaro Massinga, da Câmara de Comércio de Moçambique (CCM), alegando violação dos estatutos e princípios da boa-fé e legalidade. Massinga recorreu ao tribunal para garantir os seus direitos.
Apesar disso, na passada sexta-feira, 25 de Abril, a CTA afirmou que não aceitaria a sua candidatura. O actual presidente da confederação, Agostinho Vuma, afirmou que “nenhum tribunal seria capaz de mudar as decisões da agremiação”, desafiando a autoridade judicial.