A Organização dos Trabalhadores Moçambicanos – Central Sindical (OTM-CS) assinalou este Dia Internacional do Trabalhador com duras críticas ao custo de vida insustentável, à precariedade laboral e à falta de resposta do Governo e da Confederação das Associações Económicas (CTA) quanto ao reajuste salarial.
Durante as cerimónias centrais realizadas na Praça dos Heróis Moçambicanos, em Maputo, o secretário-geral da OTM-CS, Alexandre Munguambe, lamentou que o último aumento do salário mínimo não tenha acompanhado a realidade económica, mantendo os trabalhadores, sobretudo os das classes mais baixas, em situação de elevada vulnerabilidade social.
“O custo de vida tornou-se um autêntico sufoco para a maioria da população. Celebramos o 1.º de Maio com um poder de compra em queda, transportes deficientes e bens essenciais a preços proibitivos, apesar da retirada do IVA em alguns produtos”, afirmou o dirigente sindical, criticando o facto de essa medida ainda não ter impacto real no mercado.
Munguambe condenou ainda a decisão da CTA de adiar para Agosto o debate sobre o reajuste salarial, sublinhando que essa escolha foi aceite pela OTM apenas “por imposição das circunstâncias”, após as manifestações pós-eleitorais que levaram ao encerramento de empresas e despedimento de trabalhadores.
“Se fosse pela vontade de alguns patrões, os salários não seriam reajustados este ano. Mas nós exigimos que se mexa nos salários, que se reenquadrem os trabalhadores despedidos e que se criem novos postos de trabalho”, reforçou.
Outros temas abordados incluíram a ausência de mecanismos de revisão anual das pensões de reforma no sector privado, pagos pelo INSS, e a persistência de contratos precários, usados, segundo o sindicalista, como forma de evasão das obrigações laborais.
A OTM voltou a denunciar a falta de abertura do Governo para reconhecer juridicamente a actividade sindical na função pública, acusando o Executivo de inércia na revisão da Lei 18/2014, o que, segundo Munguambe, “pode prejudicar o País a nível internacional”.
Apesar do clima de descontentamento, centenas de trabalhadores desfilaram nas principais avenidas de Maputo, empunhando cartazes e entoando cânticos em defesa de salários justos, contratos dignos e respeito pelos direitos laborais.
Entre os participantes, houve também apelos por mais transparência na distribuição da riqueza nacional, exigência de combate à corrupção e protestos contra a actual situação financeira de empresas públicas, como a Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), cuja precariedade afecta directamente os trabalhadores.
Ainda assim, o dia foi também de afirmação profissional. Algumas categorias, como os profissionais de saúde, manifestaram o seu compromisso com o serviço público apesar das dificuldades salariais. “O salário não ajuda, mas não deixamos de cuidar dos nossos pacientes”, declarou uma colaboradora do Hospital Central de Maputo.
O 1.º de Maio foi marcado por reivindicações económicas, apelos à dignidade no trabalho e manifestações de resistência e solidariedade, num contexto ainda afectado pelas consequências sociais e laborais da recente crise pós-eleitoral.
Fonte: O País