Pelo menos 22 membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique perderam a vida durante os protestos que eclodiram após as eleições gerais gerais de 2024. A informação foi avançada esta semana pela Procuradoria-Geral da República (PGR), no âmbito da apresentação do informe anual do Ministério Público à Assembleia da República.
“Na verdade, no decurso das manifestações violentas, foram registados excessos quer por parte dos manifestantes, quer na reacção de alguns agentes das FDS. Por exemplo, no âmbito das manifestações, foram mortos 22 agentes das FDS e 178 ficaram feridos”, declarou o procurador-geral da República, Américo Letela.
O número de vítimas entre as forças do Estado surge num contexto de elevada tensão sociopolítica, após o anúncio dos resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, do partido Frelimo, e que foram vigorosamente contestados pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane. Segundo organizações da sociedade civil, os confrontos resultaram na morte de quase 400 civis, além de saques e destruição de infra-estruturas em várias províncias.
“Ocorreu, de facto, uma actuação excessiva por parte de alguns membros das FDS e importa aprimorar a capacidade de intervenção para lidar com manifestações com maior acuidade”, reconheceu Letela, sublinhando a necessidade de preservar a vida das autoridades do Estado, sobretudo em contextos de protesto.
As manifestações pós-eleitorais de 2024 são apontadas como as mais violentas desde a introdução do multipartidarismo em Moçambique, em 1994. Além das perdas humanas, o Governo confirmou a destruição de 1677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias em consequência directa dos tumultos.
A 23 de Março deste ano, numa tentativa de apaziguamento, Daniel Chapo e Venâncio Mondlane encontraram-se pela primeira vez desde a proclamação dos resultados. Ambos comprometeram-se publicamente com o fim da violência. No entanto, as trocas de acusações entre os dois continuam a marcar o discurso político, deixando em aberto o desafio da reconciliação nacional.
Fonte: Lusa