O Governo admitiu neste sábado (26) existir um conflito de interesses entre grupos que querem “sequestrar” a estatal Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), interferindo no plano de reestruturação da companhia de bandeira, informou a Lusa.
“Toda a demora [na reestruturação] que temos até agora é resultante do conflito de interesses de grupos que procuram sequestrar a empresa, e o Governo nunca vai deixar”, declarou o ministro dos Transportes e Logística, João Matlombe, à margem da cerimónia de inauguração de três locomotivas, em Maputo, Sul do País.
A 5 de Fevereiro, o Governo autorizou a venda de 91% da participação do Estado na LAM a empresas públicas, indicando que o valor será utilizado para a compra de oito aviões, acções que visam a reestruturação da companhia no âmbito dos 100 dias de governação.
A resolução aprovada pelo Executivo determina que apenas três empresas estatais – a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), os Caminhos de Ferro-de-Moçambique (CFM) e a Empresa Moçambicana de Seguros (Emose) – podem adquirir a participação do Estado na companhia.
Em declarações aos jornalistas, o ministro Matlombe denunciou as “pressões” internas e externas sobre a reestruturação da LAM, afirmando que esta visa “manter o actual estágio, a forma como a companhia continua a funcionar.”
“Vamos deixar que os accionistas trabalhem na implementação das orientações que o Governo deu. Infelizmente, esperávamos cumprir esta missão no prazo de 100 dias, mas dada a complexidade da mesma, o Executivo teve de tomar a decisão de cancelar todo o processo que estava a ser levado a cabo, porque se apercebeu de que havia um grande conflito de interesses”, explicou Matlombe.
O Governo prevê alcançar a estabilidade operacional da LAM em três anos, após vender acções estatais da companhia para empresas públicas, devido ao seu alto nível de endividamento. Há vários anos que a empresa enfrenta problemas operacionais relacionados com uma frota reduzida e falta de investimentos, com registo de alguns incidentes, não fatais, associados por especialistas à deficiente manutenção das aeronaves.
O MP avançou também que o processo sobre alegados esquemas de corrupção na venda de bilhetes na LAM, ainda sem arguidos constituídos, está igualmente em instrução, sendo objectivo identificar a titularidade ou pertença das máquinas dos terminais de pagamento automático usados para vender bilhetes, apurar os prejuízos e apontar os seus autores
Os recorrentes problemas na companhia, incluindo constantes cancelamentos de voos, levaram à contratação da sul-africana Fly Modern Ark (FMA). O referido contrato terminou em 12 de Setembro de 2024 e vigorava desde Abril de 2023, quando a FMA foi chamada para implementar uma estratégia de revitalização da LAM.
Quando a FMA assumiu a gestão da companhia aérea estatal reconheceu que a LAM tinha uma dívida estimada em cerca de 300 milhões de dólares.
Na semana passada, o Ministério Público (MP) moçambicano anunciou a abertura de um processo para investigar os contornos da assinatura de acordo entre a FMA e as entidades moçambicanas para estruturar a estatal LAM.
O MP avançou também que o processo sobre alegados esquemas de corrupção na venda de bilhetes na LAM, ainda sem arguidos constituídos, está igualmente em instrução, sendo objectivo identificar a titularidade ou pertença das máquinas dos terminais de pagamento automático usados para vender bilhetes, apurar os prejuízos e apontar os seus autores.
Em média, a LAM tem actualmente um universo de 915 passageiros diários para destinos nacionais e regionais.