A ministra angolana das Finanças, Vera Daves de Sousa, afirmou ter recebido “sinais” de que os Estados Unidos da América (EUA) mantêm um compromisso de 100% com o Corredor do Lobito, apesar dos cortes no apoio a África decididos pelo Presidente norte-americano, Donald Trump. A declaração foi feita à Lusa, em Washington, durante as Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM).
A governante indicou ter observado “declarações públicas e publicações nas redes sociais” da administração norte-americana que reafirmam o compromisso com o Corredor do Lobito. “Isso ficou também evidente nas reuniões que mantivemos esta semana em Washington”, acrescentou a responsável.
A ministra rejeitou a ideia de um distanciamento dos EUA relativamente a África, “pelo menos no que diz respeito ao Corredor do Lobito”. Além dos sinais positivos dos EUA, destacou que “o interesse europeu continua vivo”, tanto da parte da União Europeia como de países individualmente, citando a Itália como exemplo do compromisso político expresso durante os encontros em Washington.
Vera Daves de Sousa sublinhou ainda que Angola defende uma abordagem mais ampla do Corredor do Lobito, para além da linha férrea e do transporte de minerais. “Defendemos transformar toda aquela zona num espaço económico, aproveitando as potencialidades da agricultura, do turismo e da indústria”, explicou, apelando ao Banco Mundial para colaborar na identificação de novas infra-estruturas necessárias.
O Corredor do Lobito é uma infra-estrutura ferroviária de 1300 quilómetros que liga o Porto do Lobito à fronteira com a República Democrática do Congo, facilitando o escoamento de minerais críticos provenientes do Copperbelt e de Kolwezi. A operação é gerida pela Lobito Atlantic Railway, num investimento de quase mil milhões de dólares, apoiado pela Development Finance Corporation (DFC) e pelo Development Bank of Southern Africa.

Apesar do recente anúncio de cortes em projectos da Agência dos Estados Unidos da América para o Desenvolvimento Internacional (USAID), incluindo iniciativas para apoiar mulheres agricultoras associadas ao corredor, a ministra reforçou que o compromisso político dos EUA com o projecto se mantém firme.
Analistas alertam que o congelamento da ajuda norte-americana pode fomentar uma aproximação dos países da África Austral, como Angola e Moçambique, à China.
Sobre as relações internacionais, a governante sublinhou que “Angola não tem de ter amigos preferidos”, e que é “um país soberano, que se relaciona com todas as nações”. A responsável acrescentou ainda: “Gostamos de ter boas relações com toda a gente”, defendendo uma política de equilíbrio entre Washington e Pequim, capital da China.
A propósito das reuniões com o FMI, a ministra revelou que houve conversas informais sobre novos programas. “Ainda temos de trabalhar para olhar para as opções disponíveis e eventuais montantes”, afirmou, frisando que “não foi feita nenhuma solicitação formal” e que as conversações ainda estão numa fase inicial.
Questionada sobre uma eventual emissão de dívida nos mercados, a governante afastou, para já, essa hipótese. “Ainda é tudo muito informal”, explicou, acrescentando que o Ministério das Finanças está a partilhar informações preliminares para melhor aconselhar o Governo sobre os próximos passos, de acordo com as fragilidades e necessidades de tesouraria identificadas.