As Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) reconheceram publicamente que a redução da sua frota para apenas três aeronaves está na origem dos cancelamentos e reprogramações frequentes de voos, agravando a crise operacional da companhia estatal.
Em conferência de imprensa realizada esta quinta-feira (24), o porta-voz da LAM, Alfredo Cossa, admitiu que a empresa enfrenta uma grave limitação na capacidade de escoamento de passageiros, após a retirada de duas aeronaves do modelo CRJ 900, operadas pela sul-africana CemAir, que rescindiu o contrato de forma unilateral e sem aviso prévio.
“Estamos com constantes reprogramações de voos e essas reprogramações constam de um processo de cancelamento. Estamos a ter cancelamentos e reprogramações por falta de capacidade de escoamento de passageiros”, afirmou Cossa.
Com a perda dos dois aparelhos, cada um com capacidade para 90 passageiros, a frota da LAM resume-se agora a três aviões: dois Embraer 145, com lotação de 50 lugares cada, e uma outra aeronave de 37 lugares, que, segundo a empresa, não opera de forma regular, por não estar integrada no seu património.
O colapso logístico intensificou-se nas últimas semanas. A 13 de Abril, a companhia cancelou voos domésticos na rota entre Maputo e Quelimane devido à avaria de uma das poucas aeronaves em funcionamento, repetindo um padrão de ocorrências que tem afectado centenas de passageiros em todo o País.
Em resposta à crise, a LAM encontra-se em negociações com potenciais parceiros estratégicos, visando reforçar a sua frota e garantir a continuidade das operações.
No início do ano, a companhia lançou um concurso para a contratação de novas aeronaves dos modelos Embraer ERJ190 e Boeing 737-700. O edital, divulgado em Janeiro, previa a submissão de manifestações de interesse até 7 de Fevereiro, por parte de empresas ou consórcios, nacionais ou estrangeiros. Contudo, até ao momento, não foram divulgados resultados nem detalhes sobre a quantidade de aviões pretendidos.
A crise operacional actual tem raízes antigas. Em Abril de 2023, a sul-africana Fly Modern Ark (FMA) foi contratada para implementar um plano de revitalização da transportadora, cuja gestão foi prolongada até Setembro de 2024. À data, a FMA identificou uma dívida acumulada de cerca de 300 milhões de dólares (19,2 mil milhões de meticais|).
Entretanto, o Ministério Público anunciou a abertura de um inquérito para investigar os contornos do acordo entre a FMA e as autoridades nacionais. Paralelamente, prossegue outra investigação relativa a alegados esquemas de corrupção na venda de bilhetes, estando em causa a titularidade e utilização irregular de terminais de pagamento automático, bem como o apuramento de prejuízos e identificação dos responsáveis.
Em Fevereiro deste ano, o Governo autorizou a venda de 91% da participação estatal na LAM a empresas públicas moçambicanas, com o objectivo de financiar a aquisição de oito novas aeronaves. O valor da transacção ainda não foi oficialmente divulgado.
Actualmente, a LAM transporta, em média, 915 passageiros por dia em rotas domésticas e regionais, mas a continuidade desse fluxo encontra-se comprometida, dada a insuficiência da frota e a fragilidade da sua estrutura operacional.
Fonte: Lusa