A fertilização in vitro é considerada hoje um método rotineiro de reprodução assistida, que ajuda diversas famílias a realizarem o seu sonho de gerar filhos. Basicamente, consiste na injecção de espermatozoides em óvulos maduros, forçando o contacto desses gametas. Os embriões resultantes de tal fecundação são então inseridos no útero, onde a gestação será desenvolvida.
Embora a técnica seja amplamente utilizada desde a década de 1990, ainda exige um procedimento muito cuidadoso, que se divide em 23 etapas. Isso faz com que qualquer erro ou distracção do médico reduzam drasticamente as chances de sucesso da operação. Foi pensando nisso que pesquisadores do México e dos Estados Unidos criaram um sistema que pode executar o procedimento automaticamente.
Construída como uma espécie de estação de trabalho, essa solução pode ser controlada digitalmente por um médico especialista ou operada independentemente, por meio de modelos baseados em Inteligência Artificial (IA). A tecnologia foi apresentada num artigo na revista Reproductive Biomedicine Online.
Para testar o sucesso do equipamento, os pesquisadores responsáveis pelo projecto recrutaram um casal que estava com dificuldades para engravidar. Enquanto o homem tinha espermatozoides que não conseguiam nadar correctamente, a mulher apresentava problemas para produzir óvulos maduros.
A equipa seleccionou oito óvulos de doadoras para serem utilizados no experimento. Cinco deles foram encaminhados para uma fertilização pelo sistema automatizado. A IA ficou responsável por seleccionar os espermatozoides mais saudáveis, imobilizá-los com um laser para facilitar a colecta e, posteriormente, injectá-los nos óvulos.
Construída como uma espécie de estação de trabalho, essa solução pode ser controlada digitalmente por um médico especialista ou operada independentemente, por meio de modelos baseados em Inteligência Artificial (IA). A tecnologia foi apresentada num artigo na revista Reproductive Biomedicine Online
No geral, todo o procedimento levou em média 9 minutos e 56 segundos por óvulo. “O tempo é um pouco mais demorado do que a fertilização manual de rotina devido à sua natureza experimental, mas esperamos reduzir significativamente no futuro”, afirma Gerardo Mendizabal-Ruiz, líder do projecto, citado pelo portal Medical Xpress.
Dos cinco gametas utilizados pelo sistema automatizado, quatro produziram embriões. Já os três óvulos de doadores restantes passaram por um processo de fertilização manual tradicional e todos foram fecundados.
Em seguida, outro modelo de IA foi accionado para seleccionar os dois melhores embriões, com base na aparência dos seus cromossomas. Por coincidência, ambos eram produzidos pelo sistema automatizado.
“Mas isso não significa, necessariamente, que essa abordagem leve a embriões mais saudáveis do que a fertilização in vitro manual”, explica Jacques Cohen, um dos autores da iniciativa, ao NewScientist. “Não podemos confirmar isso, uma vez que o número de óvulos envolvidos no estudo ainda é muito restrito.”
Caminho longo pela frente
Transferido para o útero da mulher, apenas um dos embriões vingou numa gravidez. Os exames pré-natais apontaram um bom estado de saúde tanto da mãe quanto do feto. Nove meses depois dos processos, nasceu um bebé saudável do sexo masculino.
Apesar do sucesso do teste, a equipa admite que a validade do sistema numa aplicação terapêutica mais ampla dependerá do seu desempenho seguro num estudo envolvendo mais casos. Mesmo assim, reiteram que o primeiro bebé gerado por fertilização in vitro conduzida por IA marca um passo significativo em direcção à automação dos laboratórios.
Como lembra Alejandro Chavez-Badiola, co-autor da pesquisa, a automação hoje já se tornou uma prática consolidada na cultura de embriões. A tecnologia foi incorporada nas incubadoras, que visualizam embriões para monitorar o seu desenvolvimento e prever possíveis resultados, e ao crioarmazenamento de óvulos, espermatozoides e embriões, bem como aos procedimentos de avaliação e preparação de espermatozoides.
Fonte: Revista Galileu