A Hollard Moçambique deu um passo decisivo na consolidação da sua operação no País com a aquisição de 100% do capital da Global Alliance, uma “aposta estratégica” na sua expansão no mercado nacional, na melhoria da experiência do cliente e na diversificação da oferta de produtos e serviços.
Henri Mittermayer, Founder Member & Managing Director da Hollard Moçambique, explica à Revista E&M que esta aquisição “não é apenas uma expansão operacional, mas um compromisso com o futuro do sector através de uma seguradora ainda mais próxima do cliente, mais inclusiva e tecnologicamente preparada para os desafios que se avizinham”, assinala
Com esta integração total — e não uma fusão — a Hollard assume uma posição reforçada no mercado segurador, e com ambição reforçada em construir uma seguradora ainda mais forte, resiliente e alinhada às exigências de um mercado em crescimento. Entre os principais objectivos estratégicos estão, assinala o CEO, “o alargamento da base de clientes, a modernização tecnológica das operações, o desenvolvimento de produtos adaptados às realidades locais e o fortalecimento das capacidades de resposta em sectores-chave como energia, infra-estruturas, mineração e agricultura.”
Apesar dos desafios naturais de uma integração desta escala — desde a harmonização de processos à convergência cultural das equipas — a Hollard afirma estar a conduzir uma transição fluida, com foco na continuidade do serviço, na confiança do cliente e na criação de valor.
Com a aquisição da Global Alliance aprovada pelo Regulador, quais são os principais objectivos estratégicos desta aquisição e que mudanças concretas poderão os clientes esperar?
A aquisição, pela Hollard, de 100% do capital da Global Alliance Seguros, S.A. é uma decisão estratégica destinada a reforçar a nossa posição no mercado segurador moçambicano. Trata-se de uma aquisição total, e não de uma fusão, o que significa que a Global Alliance está agora plenamente integrada nas operações da Hollard, após a aprovação por parte da Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC) e do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM).
De que forma esta aquisição reforça a posição da Hollard no mercado segurador moçambicano?
A aquisição da Global Alliance reforça significativamente a posição da Hollard em Moçambique, ao ampliar a nossa base de clientes, melhorar a nossa oferta de produtos e fortalecer as nossas capacidades operacionais. Este movimento permite-nos aumentar a penetração no mercado, servindo uma gama mais ampla de clientes — desde grandes empresas até PME e subscritores individuais.
Do ponto de vista operacional, estamos a concentrar-nos numa integração harmoniosa que privilegie a continuidade e a experiência do cliente. Embora estejam previstas melhorias, o nosso objectivo é reunir o melhor de ambas as empresas para construir uma seguradora mais forte e inovadora. Isto inclui a modernização das operações através de plataformas digitais, agilização do tratamento de sinistros e reforço da interacção com os clientes via canais online e móveis.
“Esta aquisição posiciona a Hollard como uma seguradora mais dinâmica, centrada no cliente e com capacidade reforçada para impulsionar o crescimento sustentável e a liderança no mercado”
Já em termos de portefólio, iremos integrar as soluções da Global Alliance com a oferta já existente da Hollard, assegurando uma gama de produtos mais abrangente e competitiva. Planeamos ainda introduzir soluções inovadoras nas áreas da saúde, vida e risco corporativo, adaptadas às necessidades actuais das empresas e indivíduos moçambicanos.
Com uma carteira de riscos mais ampla e diversificada, aumentamos a nossa resiliência financeira e a capacidade de subscrição, especialmente em sectores de elevado crescimento como energia, infra-estruturas e mineração. Isto permitir-nos-á oferecer prémios mais competitivos e melhores benefícios aos nossos clientes. Esta aquisição posiciona-nos como uma seguradora mais dinâmica, centrada no cliente e com capacidade reforçada para impulsionar o crescimento sustentável e a liderança no mercado.
Quais os desafios e oportunidades que esta integração apresenta, tanto internamente como nas relações com clientes e parceiros?
Um dos principais desafios é a fusão de dois negócios com sistemas, processos e métodos de trabalho distintos. É essencial garantir uma transição suave, sem perturbações ao serviço ao cliente. A harmonização das plataformas informáticas e dos processos administrativos é fundamental, assegurando que os clientes continuam a usufruir do apoio a que estão habituados.
A cultura organizacional é outro aspecto importante. A Hollard e a Global Alliance contam com equipas sólidas, e queremos reunir o melhor de ambas. Para tal, é necessário promover uma comunicação clara, colaboração e um sentimento de pertença a uma visão comum. Do ponto de vista do cliente, as mudanças podem gerar alguma incerteza, sabemo-lo. Por isso, estamos empenhados numa comunicação transparente e pró-activa. Asseguramos que as apólices continuam válidas, os sinistros serão processados normalmente e, em breve, os clientes beneficiarão de um serviço melhorado e de novas opções de produtos. Depois, do lado das oportunidades, esta aquisição fortalece a posição da Hollard em Moçambique. Estamos também a investir em inovações digitais para tornar o processamento de sinistros e o serviço ao cliente mais rápidos e eficientes. Além disso, esta integração permitirá estreitar as relações com corretores, bancos e parceiros fintech. Em conjunto, poderemos oferecer soluções financeiras mais integradas, tornando os seguros mais acessíveis e relevantes para os moçambicanos.
No final de contas, embora a integração de duas empresas seja sempre um processo exigente, encaramos este passo como um grande avanço para a Hollard, e para todo o sector segurador nacional.
A Hollard apresentou recentemente os resultados financeiros de 2024. Quais foram os factores que impulsionaram o desempenho positivo da seguradora num contexto especialmente desafiante?
“Acreditamos que o sector beneficiaria bastante do aproveitamento do capital de risco internacional, o que reforçaria a sua resiliência e capacidade de resposta às exigências do mercado”
Sim, 2024 foi um ano muito positivo para a Hollard Moçambique! Operámos com duas licenças de seguros — a Hollard Seguros, para seguros não-vida, e a Hollard Vida, para seguros de vida — e registámos um crescimento e desempenho financeiro robustos. Em conjunto, apresentámos um lucro líquido total de 337,4 milhões de meticais, com a Hollard Seguros a contribuir com 284,7 milhões e a Hollard Vida com 52,7 milhões de meticais. Houve factores que impulsionaram este sucesso, dos quais destaco a expansão stratégica, em que apostámos em sectores de elevado crescimento como os da energia, infra-estruturas e mineração, áreas que beneficiam do desenvolvimento económico e investimento estrangeiro em Moçambique.
Depois, mantivemos o foco nas PME e no segmento de retalho, em que investimos na oferta de produtos direccionados para pequenas empresas e indivíduos que anteriormente não tinham acesso a cobertura adequada. Não posso esquecer a inovação nos produtos, em que lançámos soluções personalizadas, incluindo micro-seguros, seguros de saúde e produtos de reforma. Ao tornarmos os seguros mais flexíveis e acessíveis, sobretudo para os segmentos de rendimento médio e baixo, assistimos a uma maior adesão.
Ao nível operacional, o que contribuiu para este crescimento?
Vários factores. Apostámos na especialização não só nos canais de distribuição e parcerias, mas também nas divisões de produto. Um excelente exemplo é a nossa divisão de Benefícios para Colaboradores, que nos permitiu adoptar uma abordagem mais direccionada na prestação de soluções de seguro de valor acrescentado. Em simultâneo, expandimos as nossas capacidades digitais, introduzindo melhorias como a HealthApp — um serviço de valor acrescentado para todos os nossos clientes de seguros de saúde. Outra área de foco foi a agricultura. Lançámos a Hollard-Agri, uma divisão dedicada ao apoio ao sector agrícola moçambicano com soluções financeiras de classe mundial. Incluímos produtos de seguro paramétrico concebidos especificamente para pequenos agricultores, oferecendo-lhes protecção financeira contra riscos climáticos.
Em termos tecnológicos, desenvolvemos e implementámos sistemas de gestão de apólices online, facilitando o acesso e a gestão de seguros para clientes e intermediários. Fortalecemos ainda as parcerias com bancos, fintechs e corretores de seguros, garantindo redes de distribuição mais amplas e valiosas, com oportunidades de venda cruzada.
Investimos também na simplificação dos processos de sinistros, aumentando a flexibilidade e reduzindo os tempos de resposta — tudo com o objectivo de melhorar a satisfação dos clientes. Paralelamente, introduzimos medidas de controlo de custos e avaliações de risco mais rigorosas, promovendo decisões de subscrição mais inteligentes e melhor protecção do capital de risco dos
nossos clientes. Por fim, reforçámos significativamente a detecção de fraudes e a avaliação de sinistros, reduzindo pagamentos indevidos e optimizando rácios de perda. O resultado? Prémios mais acessíveis para os clientes e uma sustentabilidade financeira robusta
para a Hollard.

Quais os segmentos de mercado mais dinâmicos para a Hollard e que planos têm para sustentar este crescimento nos próximos anos?
O desempenho da Hollard em Moçambique tem sido impulsionado sobretudo por sectores de elevado crescimento, que beneficiam do investimento directo estrangeiro (IDE). Indústrias como a energia e o gás natural, infra-estruturas e construção, mineração e agricultura comercial têm sido os principais motores da procura por soluções de seguro.
A nossa estratégia tem sido apoiar as necessidades de gestão de risco de um mercado emergente, e é nesse contexto que nos posicionamos — ajudando empresas moçambicanas e PME a protegerem-se. Isto inclui a cobertura de activos críticos como edifícios, stocks, viaturas, mercadorias em trânsito e carga marítima, bem como benefícios para os trabalhadores, incluindo seguros de saúde, acidentes de trabalho, pensões e produtos de risco colectivo. Este segmento tem sido, de facto, um dos mais dinâmicos do sector segurador — e, por extensão, para a Hollard e a Global Alliance — nos
últimos anos. Ao mesmo tempo, estamos cientes da nossa responsabilidade em promover a inclusão financeira e apoiar a classe média emergente e as populações financeiramente excluídas. Este é um ponto central, sobretudo através das nossas parcerias com instituições de microfinanças e canais de banca-seguro. O micro-seguro e as opções de cobertura flexíveis têm desempenhado um papel essencial na nossa estratégia de expansão a longo prazo, com soluções desenhadas para pequenas empresas e produtos digitais, como os da divisão Hollard-Agri.
Como avalia a evolução do sector segurador em Moçambique?
O sector segurador em Moçambique tem registado uma transformação notável nos últimos anos, impulsionada pelo crescimento económico, actualizações regulatórias e inovação digital. Esta evolução tem permitido responder melhor às necessidades de um mercado em expansão. Contudo, persistem desafios significativos, nomeadamente no que toca ao aumento da penetração dos seguros e à melhoria da inclusão financeira.
Alguns desses desafios decorrem de dinâmicas sociopolíticas, desenvolvimentos macroeconómicos e do impacto crescente das alterações climáticas. Apesar dos avanços, consideramos que partes da legislação dos seguros permanecem desactualizadas e continuam a travar o crescimento. Sendo um dos maiores operadores do sector, sentimos uma responsabilidade acrescida em promover uma governação responsável no mesmo. Acreditamos que o sector beneficiaria bastante do aproveitamento do capital de risco internacional, o que reforçaria a sua resiliência e capacidade de resposta às exigências do mercado.
A taxa de penetração dos seguros no País continua relativamente baixa. Como é que, na sua opinião, se contorna esta questão?
Vemos a diversificação e a especialização como factores-chave para o alcançar. Acreditamos que, ao focarmo-nos em segmentos específicos e desenvolvermos soluções orientadas para o cliente, poderemos fomentar a inovação e a criatividade. Esta abordagem permitir-nos-á criar produtos e serviços adaptados às necessidades únicas dos moçambicanos, independentemente da sua faixa de rendimento. Um dos nossos objectivos estratégicos centra-se no micro-seguro e no seguro digital, duas áreas com elevado potencial de crescimento e impacto. Pretendemos desenvolver a nossa base actual de clientes e atrair novos ao longo dos próximos três anos. Planeamos ainda expandir a nossa oferta para dar resposta a riscos emergentes, como os associados às alterações climáticas, cada vez mais relevantes para particulares e empresas.
Estamos também a investir na melhoria da experiência do cliente através da inovação tecnológica, assegurando maior acessibilidade aos nossos serviços. Isto inclui a exploração de soluções de seguros via telemóvel e produtos específicos para o sector informal, que representa uma parte significativa da economia.
Outro ponto-chave é o seguro paramétrico, desenvolvido pela nossa equipa Agri. Este produto inovador protege os agricultores contra riscos climáticos e, ao contrário do seguro tradicional, efectua o pagamento automaticamente quando se verificam condições pré-definidas, como níveis de precipitação ou seca. Isto proporciona uma cobertura mais célere e fiável — essencial num país onde a agricultura tem um peso económico tão relevante.
Finalmente, estamos comprometidos em oferecer prémios acessíveis com opções de pagamento flexíveis para pequenas empresas e trabalhadores informais, garantindo que os nossos produtos sejam simultaneamente acessíveis e relevantes para os que, de outra forma, ficariam excluídos do sistema segurador.
Como é que os megaprojectos, ligados ao gás natural, podem impactar o desenvolvimento do sector segurador no País?
O crescimento do sector de GNL exigirá soluções abrangentes de seguros. Isto inclui seguros de bens e activos para infra-estruturas e equipamentos, coberturas por interrupções de actividade, seguros de responsabilidade e benefícios para colaboradores em ambientes de alto risco. Já testemunhámos isto, tendo processado sinistros de empresas afectadas pela paralisação das operações da TotalEnergies em Palma. Em paralelo com estes grandes projectos energéticos, assistimos a um crescimento indirecto do sector das PME, particularmente em áreas como logística, hotelaria, retalho e transportes. Isto gera uma crescente procura por seguros empresariais, como cobertura contra roubo, danos patrimoniais e perturbações económicas. A expansão dos sectores da energia, infra-estruturas e transportes deverá também impulsionar o crescimento dos seguros colectivos de vida e saúde, bem como de produtos de reforma e pensões, à medida que estas empresas procuram atrair e reter talento qualificado. Além disso, o foco crescente em projectos energéticos e infra-estruturais irá aumentar a exposição a riscos de responsabilidade ambiental, oferecendo à Hollard uma oportunidade para fornecer cobertura especializada nesta área. O crescimento do sector do gás natural será um dos grandes motores de expansão do mercado segurador em Moçambique, e a Hollard está bem posicionada para aproveitar estas oportunidades, oferecendo soluções corporativas personalizadas, seguros para PME, benefícios para trabalhadores e coberturas contra riscos climáticos.
Estão em vias de lançar o Fundo de Pensões Hollard Vida. Pode adiantar detalhes sobre esse lançamento?
O Fundo de Pensões Hollard Vida é uma adição significativa à nossa gama de serviços, concebido para complementar a nossa oferta abrangente de Benefícios para Colaboradores. A nossa oferta visa proporcionar aos indivíduos e às empresas uma solução de Open Umbrella Fund (fundo guarda-chuva) para segurança financeira a longo prazo e planeamento da reforma. Adaptado a diferentes necessidades financeiras, o fundo combina flexibilidade, sustentabilidade e inovação, assegurando um futuro estável para os seus membros. Este lançamento reforça o compromisso da Hollard Seguros com o empoderamento financeiro individual, oferecendo produtos de ponta que evoluem de acordo com as necessidades dos nossos clientes. Este fundo representa também a nossa dedicação a soluções financeiras inovadoras, que respondem à crescente procura por poupança individual para um planeamento estruturado da reforma. Com o forte apoio do Banco BIG Moçambique, um dos nossos parceiros de investimento — e um dos principais bancos de investimento no mercado — responsável pela gestão dos protocolos de investimento e do crescimento da nossa oferta de contribuição definida, o fundo assenta numa base sólida de estabilidade e fiabilidade.
Com o lançamento deste fundo, a Hollard reforça a sua posição como líder na oferta de soluções financeiras sustentáveis e de confiança no mercado moçambicano.
Texto: M4D • Fotografia: D.R.