A semana económica foi marcada por desenvolvimentos em áreas-chave para o crescimento de Moçambique, com destaque para o lançamento oficial da futura cidade petroquímica nacional, a inauguração de um novo terminal logístico na província de Maputo e um aumento expressivo nas transacções cambiais interbancárias, que atingiram cerca de 400 milhões de dólares no último trimestre de 2024. A estes factos junta-se ainda a leitura estratégica dos economistas sobre a nova guerra comercial entre os Estados Unidos, a China e a União Europeia — fenómeno que, embora carregado de riscos, pode abrir oportunidades pontuais para a economia moçambicana.
Cidade petroquímica nacional arranca com promessa de transformação económica
O Governo lançou esta quinta-feira, 17 de Abril, na província de Inhambane, o projecto de construção da futura cidade petroquímica nacional, um empreendimento privado avaliado em 2 mil milhões de dólares (126 mil milhões de meticais). A cerimónia foi presidida pelo Presidente da República, Daniel Chapo, que destacou o potencial transformador do projecto para a industrialização do País, a criação de cerca de 10 mil empregos e o fortalecimento da independência económica nacional.
Com impacto estimado em mais de 1,1 mil milhões de dólares no Produto Interno Bruto (PIB), a cidade petroquímica integrará unidades de processamento de gás natural e outros recursos, incluindo amoníaco, ureia, cloro e fertilizantes, além de infra-estruturas logísticas e sociais. A iniciativa insere-se na estratégia de valorização local dos recursos naturais, apostando na industrialização e na geração de oportunidades para a juventude moçambicana.
Terminal logístico de Maputo alivia pressão nas fronteiras
Outro destaque da semana foi o anúncio do investimento de 50 milhões de dólares (3,1 mil milhões de meticais) por parte da empresa Corredor Logístico de Maputo (CLM) na construção e operação de um novo terminal logístico, que já se encontra funcional. A infra-estrutura visa descongestionar os postos fronteiriços de Namaacha, Goba e Ressano Garcia, promovendo maior fluidez no trânsito de mercadorias e redução dos custos operacionais.
Com capacidade para armazenar mais de 50 mil toneladas de carga e equipada com serviços integrados da Autoridade Tributária, Migração, despachantes e transitários, o terminal constitui um passo decisivo na consolidação de Maputo como um importante centro logístico regional.
A CLM indicou ainda que, em breve, serão iniciadas as obras para a construção de 22 mil metros quadrados adicionais de armazéns. A expansão do corredor conta com o interesse do Banco de Desenvolvimento da África Austral (DBSA), que poderá investir mais 30 milhões de dólares na modernização da linha ferroviária até à África do Sul.
Mercado cambial interbancário regista crescimento de 270%
O Banco de Moçambique (BdM) divulgou, esta semana, o seu Boletim Trimestral de Mercados, revelando um aumento expressivo nas transacções cambiais interbancárias. Entre Outubro e Dezembro de 2024, o volume total de vendas de divisas entre bancos comerciais atingiu 24,6 mil milhões de meticais (400 milhões de dólares), representando um crescimento de 270% face ao trimestre anterior.
O número de transacções quase duplicou, passando de 9 para 19, com sessões cambiais mais frequentes e maiores volumes por sessão. Esta dinâmica demonstra uma crescente autonomia do sistema bancário na resposta às necessidades de divisas, sem intervenções directas do banco central nesse período. A taxa MIMO, principal referência da política monetária, foi reduzida para 12,75% no final do ano, facto que poderá ter contribuído para a melhoria da liquidez e do acesso ao crédito.
Guerra comercial global: riscos e oportunidades para Moçambique
No plano internacional, a imposição de tarifas elevadas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses e europeus reacendeu tensões comerciais que poderão ter efeitos difusos sobre economias periféricas, como a moçambicana.
De acordo com economistas contactados pelo Diário Económico, o conflito comercial global poderá criar oportunidades no curto prazo — com a queda dos preços de combustíveis a beneficiar países importadores como Moçambique —, mas também impõe riscos a médio e longo prazo, como a desvalorização das exportações e o aumento da pressão inflacionária.
O economista Egas Daniel alertou que o País poderá beneficiar da redução do preço do petróleo, mas sofrer com a queda na procura global de matérias-primas que constituem a base das exportações nacionais. Já Clésio Foia advertiu para os efeitos colaterais sobre as cadeias de valor locais, alertando que produtos mais baratos oriundos da China ou da Europa poderão desequilibrar o mercado interno e pressionar os produtores moçambicanos.
Num contexto de incerteza global, os especialistas defendem uma postura estratégica por parte do Governo moçambicano, com medidas de reforço à resiliência económica, estímulo à industrialização e aposta em cadeias de valor locais, capazes de posicionar Moçambique como actor relevante na nova geopolítica económica.
Texto: Felisberto Ruco