A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para o financiamento “criticamente baixo” face ao nível alto de afectados que necessitam de ajuda humanitária devido à passagem do ciclone Jude, que ocorreu no País nos primeiros meses deste ano.
“Apesar dos esforços contínuos, as lacunas e inconsistências significativas continuam a dificultar a capacidade de satisfazer as necessidades das populações afectadas. O financiamento para a resposta humanitária em Moçambique continua a ser criticamente baixo”, avançou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) através de um comunicado citado pela Lusa.
Segundo a entidade, são necessários 63,7 milhões de dólares (4 mil milhões de meticais) para fornecer assistência e protecção a 778 mil pessoas carenciadas até Junho próximo. “O apelo-relâmpago continua sem financiamento, com a resposta humanitária a depender de recursos fornecidos por um número limitado de doadores.”
De acordo como o relatório, desde a passagem do ciclone até 11 de Abril, o ‘cluster’ de abrigo da ONU atingiu 16% do seu objectivo, fornecendo artigos não alimentares e lonas, enquanto o sector da água, saneamento e higiene atingiu 6%, através da promoção da higiene, do transporte de água e da distribuição de kits de limpeza nas comunidades afectadas pela catástrofe natural.
O documento acrescentou que só em Cabo Delgado – que também enfrenta uma insurgência armada desde 2017 -, o plano de resposta humanitária e apelo devido à seca contou com um financiamento de apenas 21%.

“No sector da segurança alimentar e meios de subsistência, 19% da população-alvo foi atingida. No entanto, esta conquista representa uma semana de distribuição de alimentos, enquanto será necessária uma assistência sustentada até à época da colheita”, sublinhou.
A agência das Nações Unidas esclareceu que devido às “graves deficiências”, não há capacidade para transferir os recursos entre operações de ajuda, deixando “necessidades críticas sem atendimento.”
O ciclone Jude entrou no País através do distrito de Mossuril, tendo feito, pelo menos, 43 mortos, dos quais 41 em Nampula, afectando ainda Tete, Manica, Zambézia, Niassa e Cabo Delgado. A última actualização do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) apontava para, pelo menos, 384 mil afectados.
“O apelo-relâmpago continua sem financiamento, com a resposta humanitária a depender de recursos fornecidos por um número limitado de doadores”
O fenómeno climático causou também danos significativos em infra-estruturas públicas e privadas, incluindo 81 unidades sanitárias, 15 edifícios públicos, 20 pontes, 43 aquedutos e 101 239 áreas agrícolas comprometidas, abrangendo 4146 agricultores.
No sector da educação, os estragos atingiram 263 escolas e 711 salas de aula, afectando mais de 94 mil alunos e 1222 professores. A tempestade provocou a queda de 1318 postes eléctricos, com repercussões no fornecimento de energia em várias regiões.
Foram ainda registados danos em 2929 quilómetros de estradas e 6713 quilómetros de vias secundárias e terciárias, dificultando o acesso a diversas localidades.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afectados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.