A Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) pediu esclarecimentos e punição exemplar aos autores do atentado contra Joel Amaral, um dos apoiantes do político Venâncio Mondlane, argumentando que o ataque representa uma expressão de “violência e intolerância.”
“Mais do que condenar este frustrado assassinato, até porque exemplos semelhantes abundam na nossa sociedade, devemos procurar esclarecer as motivações e encontrar os autores morais e materiais e, nesse desiderato, dar um exemplo de punição”, defendeu a organização através de um comunicado.
No documento, os advogados pediram uma investigação para combater as “redes clandestinas” que atentaram contra o apoiante de Mondlane, referindo que as mesmas visam sacrificar as liberdades e direitos individuais e colectivos, representando uma forma de “violência, intolerância e opressão.”
“Antes mesmo das ideologias, somos humanos e devemos preservar esta condição. É repugnante pensar em assassinar outro semelhante porque pensa diferente. A reconciliação não se viabiliza recorrendo a uma caneta de correcção de exames, mas com a tolerância”, defendeu.

Por sua vez, os partidos políticos moçambicanos com assento parlamentar também consideraram o atentado como “intolerância política” que coloca em causa os “pilares da democracia”, e pediram uma investigação policial para esclarecer o caso.
O chefe do Estado, Daniel Chapo, também endereçou uma mensagem de repúdio e solidariedade na sequência do baleamento de Joel Amaral, desejando uma rápida e plena recuperação da vítima, e estendeu a sua solidariedade à família, amigos e colegas.
Já Venâncio Mondlane lançou um severo aviso ao Governo, na sequência do ataque a um dos seus apoiantes. O político ameaçou convocar manifestações “cem vezes piores” do que as registadas após as eleições gerais, caso se mantenha aquilo que classifica como “perseguição política” contra os seus simpatizantes.
“Estamos à espera de mais um ferido ou um morto. Aquilo que viram até hoje vai ser cem vezes pior”, declarou Mondlane, acusando as autoridades de silenciar vozes dissidentes. O político responsabilizou directamente o Governo pela escalada da violência e advertiu o Presidente da República de que esta seria a “última oportunidade” para travar o ciclo de repressão.

Joel Amaral, músico e autor de temas que mobilizaram apoiantes de Mondlane nas campanhas eleitorais para as autárquicas (2023), e depois para as presidenciais (2024), foi baleado neste domingo (13), no bairro Cualane 2.º, na cidade de Quelimane, província da Zambézia, na região Centro de Moçambique. Segundo fontes hospitalares, a lesão não resultou na penetração de projéctil, tendo sido realizada uma limpeza cirúrgica profunda. Amaral encontra-se internado nos cuidados intensivos e apresenta sinais de recuperação.
O atentado surge numa altura em que o Governo e os partidos políticos estão envolvidos em debates para restaurar a ordem e tranquilidade no País. Em 2024, logo após as eleições gerais, o assessor jurídico de Venâncio Mondlane, o conhecido advogado Elvino Dias, e o mandatário do Podemos, Paulo Cuambe, partido que apoiava a sua candidatura presidencial, foram assassinados numa emboscada à viatura em que seguiam no centro de Maputo.
Na sequência destes acontecimentos, o ex-candidato presidencial convocou protestos que, em cinco meses, provocaram 390 mortos em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando igualmente em saques e destruição de empresas e infra-estruturas públicas.