A instabilidade social no distrito de Chinde, província da Zambézia, forçou o encerramento de uma unidade de processamento de areias pesadas situada no novo posto administrativo de Micaune, provocando o despedimento de dezenas de trabalhadores e a perda de receitas fiscais para o Estado, informou o jornal O País.
A unidade industrial pertencia à empresa Africa Great Wall Mining, de capitais chineses, que optou por desmobilizar os seus equipamentos e abandonar a exploração em virtude de manifestações violentas protagonizadas por residentes locais.
“Infelizmente, por causa da instabilidade, a empresa decidiu encerrar a unidade e retirar os seus meios técnicos da zona de Micaune. 62 trabalhadores ficarão sem emprego, e o Estado perde uma importante fonte de arrecadação fiscal”, lamentou o administrador do distrito de Chinde, Vidal Bila, em declarações à imprensa.
Reclamações antigas e promessas não cumpridas
A tensão na região teve origem, segundo relatos das autoridades locais, numa promessa feita pela empresa chinesa durante a primeira consulta comunitária em 2017, na qual se comprometeu a reabilitar a estrada que liga a zona da garagem (Chinde) a Maradane (Micaune). O não cumprimento deste compromisso motivou descontentamento entre os residentes.
“A população de Micaune tem vindo a manifestar-se devido à estrada prometida pela empresa e nunca construída. No dia 28 de Fevereiro, atravessaram o rio e dirigiram-se à empresa. No dia seguinte, vandalizaram as instalações e ameaçaram os trabalhadores, que se viram obrigados a refugiar-se no mangal para garantir a sua segurança”, relatou Vidal Bila.
Governo tentou intervir, sem sucesso
O administrador distrital revelou que o Governo local tentou mediar a situação e tranquilizar a empresa, garantindo que se tratava de uma situação pontual e que estavam em curso negociações com a Administração Nacional de Estradas (ANE) e com a própria empresa para a construção da via prometida.
“Explicámos que o problema era transitório e que estávamos a trabalhar com a ANE e a própria empresa para que a estrada fosse construída. No entanto, os trabalhadores chineses manifestaram receios em continuar”, explicou Bila.
Três meses sem energia eléctrica
A instabilidade em Chinde não se restringe ao conflito com a mineradora. O distrito está sem fornecimento de energia da rede nacional há mais de três meses, na sequência da vandalização da linha eléctrica que liga Inhassunge a Chinde, também resultante das manifestações.
O administrador distrital deixou um apelo veemente às comunidades locais: “Pedimos às populações que não destruam aquilo que, com tanto sacrifício, foi construído. Todos somos prejudicados quando o património público é vandalizado. Precisamos de preservar o pouco que temos, em benefício de todos.”