“É como esculpir gelo num incêndio florestal – o que parecia bom há um segundo, agora desapareceu”. É assim que os investidores classificam o cenário actual dos mercados financeiros, depois de esta terça-feira, 8 de Abril, o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter atiçado ainda mais a guerra comercial, ao avançar com tarifas de 104% sobre as importações chinesas que entram em vigor já esta quarta-feira.
A notícia fez afundar as bolsas em Wall Street na sessão de ontem e as acções asiáticas, aumentando a aversão ao mercado asiático. O Japão liderou as quedas do continente, com o Nikkei 225 a perder 4,33% e o Topix a recuar 3,73%.
Apesar de a pressão estar sobretudo sobre a China, o que aumentou a volatilidade nesta sessão, em Hong Kong, o Hang Seng caiu 1,6% e o Shangai Composite estava pouco alterado. A China afirmou não ceder às pressões da administração dos Estados Unidos da América (EUA), mesmo que a Comissão Europeia tenha pedido a Pequim para evitar escalar as tensões.
Na Coreia do Sul, o Kospi cedeu 2% e está a caminho do bear market – ou seja, perder mais de 20% desde que atingiu máximos históricos a 11 de Julho do ano passado. Desde o início do ano, o índice cede quase 4%, uma reviravolta já que há poucas semanas era o segundo melhor desempenho do ano entre os benchmarks asiáticos.
As importações sul-coreanas serão sujeitas a um direito aduaneiro recíproco de 25%, para além dos direitos aduaneiros de 25% sobre os automóveis, o aço e o alumínio – um golpe para a economia do país, orientada para a exportação. Mesmo assim, a Coreia do Sul está numa boa posição para negociar tarifas mais baixas com os EUA, estando prevista uma deslocação do ministro do Comércio a Washington.
O adensar da guerra comercial foi condenado por grandes investidores, como Bill Ackman, e levou o JPMorgan e o Goldman Sachs a aumentar a probabilidade de uma recessão nos EUA.
Hoje entram também em vigor as tarifas recíprocas de 20% às importações europeias. Assim, os futuros da Europa apontam para perdas significativas, com o Euro Stoxx 50 a ceder 4,1%, depois de ontem ter registado a melhor sessão em mais de dois anos.
A Comissão Europeia está a preparar a sua resposta às sanções dos EUA e vai votar esta quarta-feira uma lista de produtos a serem taxados. No entanto, Ursula Von der Leyen deixa a porta aberta a negociações com os EUA.