O Parque Nacional de Banhine, localizado na província de Gaza, Sul de Moçambique, iniciou esta semana, pela primeira vez desde a sua criação em 1973, a distribuição de receitas às comunidades locais, marcando um momento histórico na relação entre conservação ambiental e desenvolvimento comunitário.
A entrega simbólica foi feita pelo secretário de Estado da Terra e Ambiente, Gustavo Dgedge, que atribuiu 650 mil meticais a 17 comités de gestão de recursos naturais do parque. O valor corresponde a 20% da receita gerada pela taxa faunística em 2024. A medida insere-se num modelo de governação participativa das áreas protegidas, com vista a reforçar o envolvimento das comunidades na conservação e no ecoturismo.
“O valor a ser entregue marca o início de um processo, e a nossa expectativa é que aumente gradualmente à medida que Banhine se fortalece como destino ecoturístico”, afirmou Dgedge durante a cerimónia.
Além da partilha de receitas, foram também entregues sete habitações a famílias locais, num investimento total de 15 milhões de meticais, como parte de um programa integrado de desenvolvimento sustentável na região.
O administrador do parque, Abel Nhambangane, revelou estar em curso um plano de investimento de 300 milhões de meticais, até 2027. O objectivo é dinamizar o rendimento comunitário, melhorar infra-estruturas de conservação, reforçar a segurança da vida selvagem e expandir a logística aérea para apoio às operações.
Entre as iniciativas destacam-se projectos como o H4H — Healthy Herds for Healthy Habitats, que visa a gestão sustentável de pastagens, e programas de introdução de animais selvagens para fins turísticos e reabilitação ecológica. As primeiras reintroduções estão previstas para o final de Maio ou início de Junho deste ano.
“Nos últimos dez anos estivemos focados na fiscalização e preservação, o que permitiu o aumento da fauna bravia. Agora iniciamos uma nova fase, com enfoque no turismo e no benefício directo para as comunidades”, declarou Nhambangane.
A governadora da província de Gaza, Margarida Mapandzene, sublinhou a importância da cooperação entre o parque e as comunidades no combate à caça furtiva, à exploração ilegal de madeira e carvão e na mitigação dos conflitos entre populações e fauna bravia.
Criado em 1973, durante o período colonial, o Parque Nacional de Banhine cobre uma vasta savana semiárida no distrito de Chigubo, sendo habitat de avestruzes, hipopótamos, antílopes, embondeiros e outras espécies ameaçadas. Durante décadas, a área foi afectada por caça ilegal, tráfico de marfim e secas prolongadas, mas encontra-se actualmente em fase de recuperação, com aposta no ecoturismo como motor de desenvolvimento.
Fonte: Lusa