O reinício das obras do projecto de gás natural liquefeito (LNG) liderado pela TotalEnergies, na província de Cabo Delgado, poderá servir de catalisador para a decisão final de investimento da ExxonMobil, avaliada em 30 mil milhões de dólares (1,9 biliões de meticais), segundo análise da agência de notação financeira Fitch Ratings.
“A retoma da construção do projecto da TotalEnergies poderá facilitar a decisão de investimento final (FID) relativamente ao megaprojecto proposto pela ExxonMobil”, lê-se na nota da Fitch. O novo projecto, que será parcialmente em terra firme, deverá contribuir significativamente para o crescimento económico moçambicano durante a fase de construção.
Com uma capacidade estimada de produção de 18 milhões de toneladas por ano (mtpa), o empreendimento da ExxonMobil poderá tornar-se o maior projecto de LNG alguma vez realizado em Moçambique, ultrapassando os 12,9 mtpa previstos para o projecto da TotalEnergies, cuja produção está prevista para começar após 2030.
A TotalEnergies, líder do consórcio da Área 1, prepara-se para reactivar os trabalhos suspensos desde 2021, na sequência da intensificação da violência armada em Cabo Delgado, que levou à retirada do pessoal técnico e à activação da cláusula de força maior.
A retoma do projecto está a ser impulsionada pelo recente desbloqueio de financiamento, nomeadamente o crédito de 4,7 mil milhões de dólares (300 mil milhões de meticais) aprovado pelo Exim Bank dos Estados Unidos, destinado à exportação de bens e serviços norte-americanos para o projecto Mozambique LNG, em construção na península de Afungi.
Entretanto, a ExxonMobil avança com os trabalhos preparatórios do seu próprio projecto, tendo contratado, em Outubro último, um consórcio liderado pela norte-americana McDermott, que integra também a italiana Saipem e a China Petroleum Engineering and Construction Corporation (CPECC), para executar o Front End Engineering Design (FEED) — a fase de concepção técnica do empreendimento.
Segundo o vice-presidente de relações externas da ExxonMobil, Walter Kansteiner, a conclusão da fase FEED está prevista para um prazo de entre 12 a 13 meses. O objectivo é que a decisão final de investimento seja tomada até ao final de 2025, conforme reafirmado pelo director-geral da companhia em Moçambique, Arne Gibbs.
Gibbs sublinhou que o Rovuma LNG, designação do projecto da ExxonMobil na Área 4, poderá tornar-se o maior projecto de gás natural liquefeito em África, e possivelmente o maior investimento de sempre no continente.
O consórcio da Área 4 é liderado pela ExxonMobil, em parceria com a italiana Eni e a chinesa CNPC, que detêm, em conjunto, 70% da Concessão de Exploração e Produção (EPCC).
Embora os recentes avanços sejam interpretados como sinais encorajadores para o sector, a Fitch alerta para a persistência de riscos de segurança em Cabo Delgado, os quais poderão continuar a condicionar os prazos e a execução dos projectos.
Ainda assim, o avanço da TotalEnergies é visto como um marco positivo, capaz de gerar confiança adicional junto de investidores internacionais e desbloquear investimentos estratégicos de grande escala.
Fonte: Lusa