A 20 de Janeiro de 2025, Donald Trump foi empossado como 47.º Presidente dos Estados Unidos. Nos dias seguintes, começaram a ser conhecidos os membros da administração, que conta com vários líderes empresariais que vão assumir papéis significativos na formulação e execução de políticas nos próximos anos, reflectindo um Governo que prioriza a eficiência empresarial sobre os processos democráticos convencionais.
Trump é um líder carismático e polarizador, que promove um estilo político disruptivo, nacionalista e conservador. A sua governação desafia convenções políticas tradicionais, opondo-se a instituições estabelecidas e consolidando uma influência marcante dentro do Partido Republicano, onde a sua liderança se tornou um elemento central da identidade do partido. O seu lema “Make America Great Again” reflecte a sua visão de restaurar um suposto passado glorioso do país, através da adopção de um nacionalismo económico, defendendo o proteccionismo comercial e priorizando a produção nacional.
Nos primeiros dias da sua governação, Trump implementou um conjunto de medidas políticas que reflectem as suas prioridades neste que é o seu segundo mandato, em áreas como a imigração, estratégia comercial e política externa. No âmbito da imigração, iniciaram-se deportações em larga escala, principalmente de imigrantes latino-americanos, cumprindo assim uma das suas promessas eleitorais de expulsar milhões de imigrantes que se encontravam em situação irregular.
No âmbito comercial e económico, os EUA anunciaram tarifas de 25% sobre as importações com origem no Canadá e México e de 10% sobre importações da China. Segundo a administração norte-americana, as novas medidas tarifárias visam reindustrializar a economia do país e reduzir os desequilíbrios comerciais, embora tenham gerado tensões comerciais e geopolíticas, afectando as cadeias de abastecimento globais.
Esta nova política dos EUA poderá marcar o fim de uma era de livre comércio, introduzindo incertezas que afectam o crescimento económico global. Segundo alguns analistas, existem preocupações de que uma escalada nas tensões comerciais possa levar a uma desaceleração económica, com impactos negativos para diversos países e sectores económicos.
A nova política dos EUA poderá marcar o fim de uma era de livre comércio, introduzindo incertezas que afectam o crescimento económico global
Embora as tarifas de Trump tenham como objectivo proteger indústrias específicas nos Estados Unidos, estas traduzem-se num aumento dos custos para as empresas e, em última instância, num aumento de preços dos bens importados. Caso os países afectados iniciem uma política de retaliação, impondo também tarifas sobre produtos importados dos EUA, tal afectará de igual forma as empresas norte-americanas, com impacto sobre o crescimento económico e o emprego. Adicionalmente, países como a China podem decidir desvalorizar deliberadamente a sua moeda, tornando os seus produtos mais baratos no mercado global e anulando parte do efeito das tarifas norte-americanas.
No âmbito interno, Trump assinou um número recorde de ordens executivas nos primeiros dias do seu segundo mandato. Retirou o País da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Acordo de Paris. Reverteu políticas relacionadas com os direitos de género e diversidade. Numa das suas medidas mais controversas, estabeleceu o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Elon Musk, o bilionário sul-africano que lidera e detém empresas como a Tesla, a SpaceX e o X, com o objectivo de aumentar a eficiência do Estado e a redução de custos.
No âmbito externo, veiculou a ideia de adquirir a Gronelândia, um território autónomo da Dinamarca, bem como de assumir o controlo do canal de Panamá. Relativamente ao plano para a resolução do conflito no Médio Oriente, sugeriu a aquisição e reconstrução da Faixa de Gaza, com a intenção de transformar este território numa “Riviera do Médio Oriente”, dizendo que cabe aos Estados árabes acolher os refugiados palestinianos.

Renomeou ainda o “Golfo do México” como “Golfo da América” e sugeriu uma potencial anexação do Canadá, referindo que este país poderia ter benefícios, caso se tornasse o 51.º Estado dos EUA. Grande parte destas ideias foram recebidas com enorme perplexidade na comunidade internacional, que tem procurado evitar o confronto com os EUA, enquanto se definem estratégias para lidar com a nova administração de Trump. Ainda no âmbito externo, a agência de ajuda externa USAID começou a ser desmantelada, a par da interrupção de todo o apoio internacional, alegando a equipa de Trump que se tratava de uma instituição corrupta e que há necessidade de se realinhar a assistência internacional. Esta decisão gerou alarme junto dos principais países receptores do apoio norte-americano, mas também entre republicanos e democratas, que temem as consequências de eliminar programas considerados críticos para a segurança nacional e para contrabalançar a influência de países como a China. Alguns membros do partido republicano vieram a público defender os programas da USAID, pela sua importância na competição geopolítica, e sugerem que, em vez de um encerramento completo, a agência possa ser reformada para melhorar a sua eficiência e alinhamento com os interesses nacionais.
Moçambique tem sido beneficiário dos programas da USAID, estimando-se que, em 2024, tenha recebido cerca de USD 570 milhões em apoios. A agência tem direccionado a sua assistência para a saúde, segurança alimentar, agricultura, resposta a desastres e ajuda humanitária, educação, entre outros. Com a possibilidade de retirada destes apoios, mesmo que em parte, o Governo Moçambicano enfrenta agora um desafio significativo, numa altura crítica em que procura recuperar a confiança da população, sendo que a capacidade financeira interna para implementar estes programas é reduzida.