A frota de 24 barcos atuneiros e arrastões da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM) continua sem compradores, com o processo de venda bloqueado pela ausência de propostas viáveis no leilão internacional que se realizou no mês passado. De acordo com o jornal domingo, a falta de interessados deve-se, em grande parte, ao clima de instabilidade no País, resultado das manifestações que se seguiram às eleições gerais de 2024.
Os potenciais compradores, na sua maioria investidores estrangeiros, têm manifestado receios em deslocar-se a Moçambique para avaliar o estado real das embarcações, condição considerada essencial antes da apresentação de propostas de compra. “Os grandes investidores dizem que precisam de ver os barcos antes de fazerem ofertas, mas, devido às manifestações e à incerteza política, não conseguem deslocar-se ao País”, revelou uma fonte ligada ao processo.
A venda dos barcos, conduzida pelo Estado através de uma comissão liquidatária, iniciou-se a 30 de Setembro de 2024, com a publicação do leilão internacional através da plataforma Leilosoc. No entanto, passados mais de cinco meses, ainda não foi registada qualquer proposta concreta de compra.
A frota da EMATUM é composta por 21 atuneiros (palangreiros), destinados à pesca de atum, e três arrastões, usados na captura de pequenos pelágicos para servirem de isca. Do total de embarcações, 12 nunca chegaram a ser utilizadas e nove foram operacionais durante cerca de dois anos, antes da suspensão das actividades da EMATUM devido ao escândalo das dívidas ocultas.
O Governo esperava arrecadar cerca de 11 milhões de dólares (700 milhões de meticais) com a venda das embarcações, baseando-se no preço mínimo de licitação. No entanto, a situação de incerteza política e o impacto das manifestações têm afastado os interessados, dificultando o encerramento do processo de liquidação da empresa.
Fontes indicam que os potenciais compradores consideram insuficientes as fotografias e informações disponibilizadas online, insistindo na necessidade de inspecção física dos barcos antes da formalização de qualquer oferta. No entanto, com o clima de instabilidade e os protestos esporádicos registados no País, muitos investidores têm optado por adiar a sua deslocação a Moçambique até que a situação política se normalize.
A incerteza em torno da venda da frota da EMATUM evidencia os efeitos colaterais das dívidas ocultas, um escândalo que resultou na falência da empresa e continua a pesar sobre a economia moçambicana, afectando o ambiente de negócios e a credibilidade do País no cenário internacional.