O Governo reviu em baixa as previsões para o crescimento da economia em 2025, apontando agora para um intervalo entre 2,9% e 3,0%, um valor significativamente inferior às estimativas anteriores, que apontavam para 4,7%. A informação foi avançada pela ministra das Finanças, Carla Louveira, durante uma audiência com a directora adjunta do Departamento Africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada esta semana, em Maputo.
A revisão em baixa surge num contexto de desafios fiscais e económicos, sendo que o Cenário Fiscal de Médio Prazo 2025-27, divulgado em Junho do ano passado, previa um crescimento de 5,5% para 2024 e 4,7% para 2025, depois de a economia ter registado um crescimento de 5,0% em 2023. No entanto, factores como a redução do desempenho no sector extractivo, efeitos climáticos sobre a agricultura e dificuldades nos transportes e comunicações foram determinantes para a correcção das previsões.
Além da desaceleração do crescimento, o Governo estima agora que a inflação possa estabilizar nos 7,0% em 2025, valor superior às previsões anteriores. “Espera-se que a inflação se mantenha dentro da banda 4,5%-5,5% entre 2025-27, alinhada ao objectivo de manter a inflação num dígito, embora sujeita a pressões de choques de oferta e aumentos nos preços das commodities, especialmente alimentos e energia”, refere o Cenário Fiscal de Médio Prazo 2025-27.
A reunião com o FMI decorreu num momento de avaliação do desempenho económico do País no âmbito do Programa de Facilidades de Crédito Alargado, com o Fundo a expressar preocupação face à actual situação fiscal de Moçambique.
Andrea Richter Hume, directora adjunta do Departamento Africano do FMI, sublinhou que a missão está “muito preocupada com a situação fiscal do País nos aspectos relacionados com a arrecadação de receitas, racionalização da despesa pública, massa salarial, dívida pública e outros pagamentos em atraso”. O FMI demonstrou ainda disponibilidade para continuar a apoiar Moçambique no novo ciclo de governação 2025-29.
Já a ministra das Finanças destacou os avanços registados no relacionamento com o FMI, sublinhando que o País já teve quatro avaliações bem-sucedidas e recebeu desembolsos acumulados de 330 milhões de dólares (20,8 mil milhões de meticais).
“Espera-se que a inflação se mantenha dentro da banda 4,5%-5,5% entre 2025-27, alinhada ao objectivo de manter a inflação em um dígito, embora sujeita a pressões de choques de oferta e aumentos nos preços das commodities, especialmente alimentos e energia”
“Este programa, no valor total de 470 milhões de dólares (29,6 mil milhões de meticais), tem sido um pilar essencial para a estabilidade macroeconómica do nosso país”, afirmou Carla Louveira. A governante garantiu ainda que o Governo continuará a trabalhar com o FMI e outros parceiros internacionais, focando-se na consolidação fiscal, crescimento económico e bem-estar social.
PIB também ficou abaixo do esperado em 2024
Além da revisão para 2025, os dados do Governo revelam que a economia moçambicana registou um crescimento inferior ao esperado em 2024, fixando-se em 1,9%, muito abaixo da previsão inicial de 5,5%. A queda foi atribuída aos protestos e manifestações pós-eleitorais, que afectaram o funcionamento de várias actividades económicas.
“Estas acções violentas contra activos públicos e privados impactaram negativamente na taxa de crescimento económico, tendo-se situado em 1,9% em 2024, contra os 5,5% que haviam sido programados para este ano e os 5,4% observados no período homólogo de 2023”, explicou a ministra das Finanças.
A governante também destacou os efeitos dos choques climáticos, como a tempestade tropical severa Filipo, que provocou cheias e inundações, afectando o sector agrícola e a actividade económica nas principais cidades e vilas do sul do País.
O impacto da crise ficou evidente nos números do Plano Económico e Social, que revelou que a economia moçambicana registou uma contracção de 4,87% no quarto trimestre de 2024, um período marcado pela instabilidade política e económica. “O Produto Interno Bruto a preços de mercado apresentou uma variação negativa de 4,87% no quarto trimestre de 2024, quando comparado ao mesmo período de 2023”, aponta o documento.
A desaceleração económica coloca desafios adicionais para Moçambique, num momento em que o País procura recuperar a confiança dos investidores e assegurar o equilíbrio das contas públicas. O Governo mantém-se optimista e reforça o compromisso com reformas estruturais para garantir um crescimento económico sustentável nos próximos anos.
Fonte: O País