O tema das divisas em Moçambique continua a ser uma preocupação para os empresários, que têm relatado a escassez de moeda estrangeira nos bancos comerciais, dificultando o cumprimento das suas obrigações no exterior. Há alguns dias, foi prometido um novo levantamento sobre as empresas com facturas pendentes de pagamento ao estrangeiro.
Nesta terça-feira, 18 de Fevereiro, a Confederação das Associações Económicas (CTA) convocou a imprensa para informar que, em resposta ao seu pedido, 63 empresas reportaram pagamentos diversos solicitados pelo exterior. Destas, 41% pertencem ao sector industrial, 25% à aviação e 21% ao comércio geral.
“Os dados agregados mostram que 60 empresas submeteram solicitações de pagamento ao exterior aos seus bancos comerciais, totalizando um valor estimado de 23,8 mil milhões de meticais (373 milhões de dólares). Esta estimativa está ligeiramente abaixo dos 25,6 mil milhões de meticais (402 milhões de dólares) anteriormente apresentados pela CTA. Esta aparente redução deve-se ao curto período concedido para a submissão da informação. Aliás, mesmo durante esta apresentação, continuamos a receber mais processos”, explicou Evaristo Madime, presidente do Pelouro da Indústria na agremiação.
O responsável destacou que, do valor apresentado, 40% corresponde ao sector da aviação, actualmente o mais afectado. “Devido a esta situação, muitas companhias decidiram suspender alguns voos para Moçambique, bem como vender os seus bilhetes através de agências de viagens sediadas no estrangeiro”, acrescentou.





O sector da aviação é seguido pelo da indústria, com 26%, e pelo comércio, com 12%. “Analisando a dinâmica das exportações e importações de Moçambique, nota-se que o problema do mercado cambial poderia ser diferente, se bem endereçado. Por exemplo, a cobertura das exportações sobre as importações, incluindo os Grandes Projectos (GP), é de 87%. Numa situação destas, não seria justificável a escassez que se verifica”, afirmou.
Para reduzir a escassez de divisas no mercado para a importação de matérias-primas, estimada em 31,9 mil milhões de meticais (500 milhões de dólares), Madime propõe que o Governo inste as empresas do sector da indústria extractiva, em particular, a repatriarem as receitas de exportação dos grandes projectos. Para a fonte, esta medida poderia, em pouco tempo, contribuir para o restabelecimento da normalidade na fluidez de divisas.
Analisando a dinâmica das exportações e importações de Moçambique, nota-se que o problema do mercado cambial poderia ser diferente, se bem endereçado. Por exemplo, a cobertura das exportações sobre as importações, incluindo os Grandes Projectos (GP), é de 87%. Numa situação destas, não seria justificável a escassez que se verifica
“Após a recepção destes documentos, a CTA irá submetê-los ao Banco de Moçambique como prova material e quantitativa de que o problema de divisas no mercado cambial é real e muito sério, exigindo a atenção do governador do banco para a busca de soluções. A não resolução deste problema a curto prazo pode agravar a situação económica do País e deteriorar ainda mais as oportunidades de emprego, levando à continuidade das convulsões sociais a que temos assistido”, alertou.
Medidas do Governo para aliviar o custo de vida
Na mesma ocasião, Madime considerou oportuna e sábia a introdução de determinadas medidas para o alívio e contenção do custo de vida. “Foi o que defendemos em Novembro último, quando apresentámos a avaliação preliminar dos impactos das manifestações pós-eleitorais. Na altura, a nossa avaliação estimava que o custo da cesta básica tinha subido 11% e acreditamos que, até Dezembro, a subida tenha sido mais acentuada”, disse.
O presidente do Pelouro da Indústria na CTA destacou que o anúncio da intenção do Governo surge “em boa hora. Como sector privado, acreditamos que as medidas para a contenção do custo de vida poderão contribuir para a paz social, permitindo que as empresas operem normalmente. Encorajamos o chefe do Estado e todo o Governo a continuarem nesse caminho para resolver os assuntos prementes da nossa sociedade”, concluiu.
Texto: Nário Sixpene