A crise de divisas no País continua a afectar diversos sectores da economia, com impactos graves no turismo, viagens aéreas e na saúde. Esta terça-feira, 18 de Fevereiro, empresários alertaram que a falta de moeda estrangeira nos bancos comerciais está a comprometer a capacidade de pagamento ao exterior, prejudicando operações, encarecendo serviços e ameaçando o funcionamento normal de empresas e instituições de saúde.
Mohammad Abdullah, presidente do Pelouro de Turismo, Hotelaria e Restauração na CTA, destacou os efeitos negativos da escassez de divisas no sector das viagens e do turismo. “As companhias aéreas estão a reduzir as suas operações no mercado nacional por não conseguirem expatriar os seus capitais e cobrir os custos operacionais. Quando um negócio se torna insustentável, qualquer gestor preparado tem de tomar medidas, que podem ser prejudiciais ao País”, alertou.
O empresário explicou que as companhias aéreas têm adoptado três estratégias que afectam o mercado local: primeiro, aumentam as tarifas para passagens vendidas em meticais; depois, reduzem a frequência de voos para Moçambique; e, finalmente, eliminam por completo a venda de bilhetes no País. “Temos casos concretos como o da Ethiopian Airlines, que continua a voar para Moçambique, mas bloqueou a venda de bilhetes no mercado moçambicano. Hoje, se um cidadão quiser comprar uma passagem dessa companhia terá de o fazer através de uma agência estrangeira”, afirmou.

O responsável salientou ainda que a situação representa um retrocesso para o turismo no País. “Moçambique tem um enorme potencial turístico, com recursos naturais excepcionais, mas estas dificuldades cambiais são uma ‘pedra no sapato’ dos investimentos e do crescimento do sector. Redução de frequências e bloqueio de vendas no mercado local são indicadores claros de regressão”, lamentou, apelando ao Governo e ao Banco de Moçambique para que tomem medidas urgentes.
Sector da saúde em crise
O impacto da falta de divisas também se faz sentir no sector da saúde, particularmente na importação de medicamentos e equipamentos médicos. Mariamo Hassane, presidente do Pelouro de Saúde Privada, revelou que a falta de moeda estrangeira está a comprometer a aquisição de medicamentos essenciais, colocando em risco o atendimento de doentes.
“Em Moçambique, 80% dos medicamentos são importados da Índia. O Governo indiano, tal como o nosso, exige termos rigorosos para exportação. Uma das regras é que as facturas emitidas só podem ser pagas até três meses. No entanto, devido à falta de divisas, no País há facturas pendentes há mais de seis meses, impossibilitando novas importações”, explicou.
A empresária sublinhou que, anteriormente, os bancos comerciais priorizavam os pagamentos relacionados com medicamentos, mas agora apenas processam facturas de valores reduzidos. “Muitas empresas importam medicamentos com facturas acima de 6,3 milhões de meticais (100 mil dólares), mas os bancos pedem que sejam divididas em valores menores, o que não é viável e torna o processo mais caro”, criticou.

Outro problema apontado por Hassane é a dificuldade em importar material médico-cirúrgico, essencial para o funcionamento dos hospitais. “O Governo e os bancos centrais estão focados apenas no pagamento de medicamentos, esquecendo que o material médico-cirúrgico é também fundamental. Sem o material, é impossível realizar procedimentos básicos e garantir serviços de saúde de qualidade”, afirmou.
Apelos a medidas urgentes
Diante deste cenário, os empresários dos sectores do turismo e da saúde apelam ao Governo e ao Banco de Moçambique para que implementem soluções urgentes. “Temos sido recebidos pelas autoridades, mas é necessário agir com maior eficácia e coragem. Sem medidas concretas, esta crise de divisas continuará a prejudicar a economia, afastar investimentos e comprometer serviços essenciais”, concluiu Mohammad Abdullah.
Por seu turno, Mariamo Hassane reforçou a necessidade de priorizar os pagamentos para medicamentos e equipamentos de saúde. “Sem saúde, não se trabalha, não se produz, não há desenvolvimento. A crise de divisas não pode ser um entrave ao bem-estar da população”, alertou.
A situação cambial do País permanece um desafio estrutural, exigindo medidas rápidas e eficazes para evitar danos ainda maiores à economia e à qualidade de vida da população.
Texto: Nário Sixpene