As Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) anunciaram, nesta terça-feira, 18 de Fevereiro, a suspensão da rota Maputo-Lisboa, uma decisão que entra em vigor a partir de amanhã, 19. A medida foi justificada pelos elevados prejuízos acumulados, que ultrapassam os 21 milhões de dólares (1,3 mil milhões de meticais), desde a inauguração da rota.
Durante a conferência de imprensa realizada na sede da LAM, em Maputo, o porta-voz da companhia, Alfredo Cossa, explicou que a suspensão da rota é uma das acções tomadas no âmbito de uma reestruturação da empresa, que está a ser alinhada com o plano de 100 dias do Governo. A companhia decidiu redireccionar os seus esforços para o mercado doméstico e regional, onde as operações são mais sustentáveis.
Cossa revelou que a decisão de manter a rota Maputo-Lisboa foi tomada pela gestão anterior, que acreditava no potencial da ligação intercontinental. No entanto, a nova administração, liderada pelo engenheiro Marcelino Gildo Alberto desde Janeiro deste ano, fez uma análise detalhada das finanças da empresa e concluiu que a operação não era viável. “Em menos de 20 dias, percebemos que a operação de Lisboa não estava a gerar os resultados esperados, e foi tomada a decisão de suspender a rota”, afirmou Cossa.
A companhia também alimentou a operação de Lisboa com recursos provenientes do mercado doméstico, o que acabou por tornar-se insustentável. A situação levou a LAM a priorizar a estabilização interna. “Não podemos continuar a voar grande enquanto a casa não estiver arrumada. Primeiro, precisamos de consolidar o mercado doméstico, depois avançaremos para o mercado regional e internacional de forma mais sólida”, explicou o porta-voz.

A reestruturação da LAM inclui também a suspensão de outras rotas deficitárias, como a de Maputo-Arara-Lusaka, que gerou perdas de 307 mil dólares (19,6 milhões de meticais). A companhia pretende agora reforçar a sua presença em mercados regionais lucrativos, como Joanesburgo e Dar-es-Salaam. Contudo, a prioridade será o mercado doméstico, com a intenção de garantir uma operação mais eficiente e rentável.
Além da suspensão das rotas, a LAM está a tomar medidas para melhorar a qualidade do serviço e reduzir custos, tendo-se comprometido a equilibrar os preços das tarifas dos voos domésticos e a melhorar a pontualidade e a eficiência operacional. “Estamos a trabalhar para garantir que o serviço que oferecemos seja cada vez mais competitivo e fiável”, disse Cossa.
A suspensão da rota Maputo-Lisboa irá afectar alguns passageiros, mas a LAM garantiu que estes serão reembolsados ou realocados em outros voos, assegurando também que os passageiros serão informados atempadamente sobre os procedimentos para a devolução dos valores pagos pelas passagens.
Nos últimos anos, as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) têm enfrentado desafios relacionados com a limitação da sua frota e a escassez de investimentos, o que resultou em alguns incidentes operacionais, sem vítimas mortais, atribuídos à manutenção inadequada das aeronaves. Em Janeiro de 2025, a Autoridade Reguladora da Aviação anunciou a devolução do avião cargueiro Boeing 737-300 à Indonésia, após um ano fora de operação. A devolução foi motivada pela falta de certificação nacional e pela não homologação das modificações realizadas pelo fabricante.
Ao mesmo tempo, a LAM fez saber que Marcelino Gildo Alberto foi nomeado presidente do conselho de administração da companhia, substituindo Américo Muchanga, numa série de mudanças de liderança que já incluíam a saída de Theunis Crous, da Fly Modern Ark (FMA), empresa sul-africana contratada para ajudar na recuperação da empresa.
Durante o período de gestão da FMA, foram revelados esquemas de desvio de recursos financeiros da LAM, resultando em perdas de quase 3,2 milhões de dólares (240 milhões de meticais), envolvendo a venda de bilhetes através de terminais de pagamento automáticos (TPA/POS) não autorizados pela companhia. Estes acontecimentos levaram o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) de Moçambique a abrir uma investigação.
Em Fevereiro de 2025, o Governo tomou a decisão de vender 91% da participação estatal na LAM a três empresas estatais: Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e Empresa Moçambicana de Seguros (Emose). A venda, que deverá gerar 130 milhões de dólares (8,2 mil milhões de meticais), tem como objectivo investir na compra de oito novas aeronaves e na reestruturação da companhia aérea, com a finalidade de melhorar a sua operação e fortalecer a sua frota.
Texto: Felisberto Ruco