O projecto Mozambique LNG, liderado pela TotalEnergies na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, enfrenta novos desafios que podem comprometer a sua concretização. A dificuldade em garantir o financiamento necessário junto dos Estados Unidos e do Reino Unido coloca em risco a conclusão deste investimento estratégico, avaliado em mais de 20 mil milhões de dólares. Apesar do crescimento da procura global por Gás Natural Liquefeito (GNL), a incerteza financeira ameaça atrasar indefinidamente o projecto – ou, no cenário mais pessimista, impedir que saia do papel.
Investidores hesitam
O projecto está suspenso desde 2021, quando a companhia francesa declarou força maior que parou a operação, devido à intensificação dos ataques terroristas. Agora, a empresa está a planear um recomeço – mas está a enfrentar as consequências.
O projecto Mozambique LNG da TotalEnergies, avaliado em 20 mil milhões de dólares, está actualmente numa fase crítica, aguardando a reaprovação de um empréstimo significativo dos Estados Unidos, que pode chegar a 5 mil milhões de dólares. No final do ano passado, a supermajor francesa tentou, sem sucesso, convencer a administração Biden cessante a disponibilizar esse valor em empréstimos estatais para o projecto de gás natural liquefeito.
O Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (U.S. EXIM Bank) havia aprovado anteriormente um empréstimo de 4,7 mil milhões de dólares, mas a declaração de força maior, em 2021, devido à insegurança em Cabo Delgado, impediu o desembolso desse valor. A TotalEnergies agora busca a reaprovação desse e de outros financiamentos internacionais
“Em Janeiro, Trump assinou a ordem executiva Unleashing American Energy, que pôs fim à pausa nas licenças de exportação de GNL”, escreveu o IEEFA, questionando: “Será que isto se enquadra no financiamento dos EUA a um projecto francês, japonês, indiano e tailandês, particularmente no contexto da questionável procura de GNL a longo prazo?”.
Entre os principais financiadores do projecto Mozambique LNG estão, para além do Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (U.S. EXIM Bank): que se comprometeu com aproximadamente 4,7 mil milhões de dólares em financiamento aprovado, o Reino Unido, com um compromisso de mais de mil milhões de dólares, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), com proximadamente 400 milhões de dólares para apoiar a construção do projecto e um consórcio de Bancos Comerciais (financiamento totaliza cerca de 15 mil milhões de dólares), envolvendo múltiplos bancos, incluindo o Standard Bank e o Société Générale, entre outros.
Mas se a posição de Trump sobre a matéria será decisiva, outro dos financiadores com algum peso no projecto está actualmente a avaliar o financiamento, considerando a situação de segurança em Cabo Delgado e as implicações climáticas do empreendimento.
É o caso do Reino Unido. Sendo certo que a UK Export Finance (UKEF), agência governamental britânica, havia aprovado um financiamento de 1,1 mil milhões de dólares para o projeto Mozambique LNG em 2020, o actual governo britânico, liderado por Keir Starmer, estará agora a reconsiderar este compromisso financeiro devido a mudanças nas políticas energéticas e compromissos climáticos, estando em análise se o financiamento acordado continua a ser viável, especialmente após os compromissos climáticos assumidos na COP26.
Procura aumenta e o mundo está com ‘fome’ de gás
Quanto à possibilidade de questionar a procura de gás natural liquefeito a longo prazo, parece haver um argumento bastante forte para isso no contexto das actuais tendências de preços na Europa, que nesta semana atingiram o valor mais elevado desde 2023, uma vez que o pico da procura sazonal fez baixar as reservas, aumentando os receios de que a Europa possa terminar o inverno com as reservas esgotadas – e depois ter de as reabastecer.
A procura de GNL é forte e está prestes a tornar-se mais intensa à medida que mais oferta entra em linha, apesar da insistência do IEEFA – e de outros meios de transição – em que o mundo se está a afastar dos hidrocarbonetos. Apesar de todos os esforços envidados nesse sentido, até a procura de carvão continua a crescer a nível global.

No entanto, nem tudo está isento de controvérsia em torno deste destacamento e as capitais europeias estão a discutir o alegado envolvimento do exército ruandês no apoio a grupos rebeldes na República Democrática do Congo. As alegações já suscitaram protestos em Bruxelas e pedidos de sanções.
Inicialmente, a TotalEnergies deveria começar a transportar GNL a partir da instalação em 2024. Actualmente, a Rystad Energy prevê que a data de início poderá ser adiada para 2030.
No entanto, se a procura de GNL aumentar como previsto, isso justificará o investimento de 20 mil milhões de dólares no projecto e quaisquer investimentos adicionais que tenham de ser feitos para garantir um ambiente seguro para a instalação. No fim de contas, o que está em causa é a segurança do aprovisionamento energético.
O projecto de liquefação de gás liderado pela TotalEnergies é visto como podendo responder às necessidades do mercado do Atlântico e da Ásia, para além de explorar a crescente procura de energia do Médio Oriente.
Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projectos têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.
Um é precisamente esse liderado pela TotalEnergies (consórcio da Área 1) e outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).
Um terceiro projecto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, directamente no mar, que arrancou em Novembro de 2022.