Uma equipa de investigadores das universidades de Michigan e Rice desenvolveu uma nova tecnologia de purificação da água que promete revolucionar o processo de dessalinização, tornando-o mais sustentável e acessível. Este avanço elimina a dependência de produtos químicos dispendiosos ao utilizar eléctrodos de carbono, uma solução inovadora que contribui para reduzir custos e minimizar o impacto ambiental.
A dessalinização da água do mar, essencial para enfrentar a crescente crise mundial de água, enfrenta desafios significativos, como a remoção eficaz do boro, um componente natural da água do mar que pode ser tóxico se não tratado adequadamente.
Actualmente, os níveis de boro na água do mar são até duas vezes superiores ao limite mais permissivo da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a água potável e cinco a doze vezes superiores aos níveis toleráveis para a agricultura.
De acordo com o portal Sapo, tradicionalmente, as instalações de dessalinização utilizam membranas de osmose inversa, que são eficazes na remoção de sais electricamente carregados, mas não conseguem remover eficazmente o boro na sua forma neutra de ácido bórico. Isso requer tratamentos adicionais que envolvem a adição de bases e ácidos, o que aumenta os custos e o impacto ambiental.
A nova tecnologia substitui estes tratamentos químicos dispendiosos por eléctrodos de carbono com estruturas que captam especificamente o boro. Estes elécrodos utilizam poros revestidos com aglomerados contendo oxigénio que podem ligar selectivamente o boro e permitir a passagem de outros iões presentes na água do mar.
Este avanço elimina a dependência de produtos químicos dispendiosos ao utilizar eléctrodos de carbono, uma solução inovadora que contribui para reduzir custos e minimizar o impacto ambiental
O método reduz a utilização de produtos químicos e a energia necessária, oferecendo uma alternativa sustentável. Para carregar negativamente o boro e facilitar a sua captura, os eléctrodos geram iões de hidróxido (OH-) através de um processo de electrólise da água.
Assim que o boro é capturado, os iões de hidrogénio (H⁺) e os hidróxidos recombinam-se, resultando em água purificada sem resíduos químicos adicionais. Esta abordagem elimina a necessidade de fases adicionais de osmose inversa, reduzindo ainda mais os custos operacionais.
A aplicação desta tecnologia poderia reduzir os custos de tratamento da água até 15%, ou seja, aproximadamente 0,20 dólares (12,6 meticais) por metro cúbico de água tratada, o que representaria uma poupança global de até 6,9 mil milhões de dólares (436 mil milhões de meticais) por ano, considerando a capacidade mundial de dessalinização de 95 milhões de metros cúbicos por dia em 2019.

A versatilidade desta tecnologia não se limita ao boro. De acordo com o estudo publicado na revista Nature Water, os grupos funcionais dos eléctrodos podem ser modificados para capturar outros contaminantes, como o arsénico, transformando-os em formas facilmente removíveis.
Esta abordagem tem o potencial de revolucionar o tratamento da água para uma variedade de aplicações, desde o consumo humano à irrigação agrícola. Com a procura global de água doce projectada para exceder a oferta disponível em 40% até 2030, esta tecnologia representa um avanço crucial na abordagem da crise mundial da água.
A sua capacidade de minimizar os custos, reduzir a utilização de produtos químicos e aumentar a sustentabilidade ambiental posiciona a dessalinização como uma solução viável e acessível no contexto dos actuais e futuros desafios da água.