Depois das manifestações que degeneraram em violência nos últimos meses no País, muita incerteza reina dentro da sociedade, principalmente no que diz respeito a perspectivas de crescimento e possibilidade de criação de novas oportunidades para as camadas mais jovens.
Num encontro que decorreu nesta segunda-feira (28) entre a comunicação social e a Confederação das Associações Económicas (CTA), os jornalistas não deixaram escapar a oportunidade para questionar os empresários sobre o que esperam dos próximos dias. Estes admitiram que o crescimento económico neste ano vai ficar muito abaixo do de 2024, caso não sejam adoptadas medidas de apoio após os actos de vandalismo e pilhagens de bens que ocorreram durante as manifestações pós-eleitorais.
“Se estivermos num cenário em que não há nenhuma medida, assim como estamos, com o tecido industrial delapidado, infra-estruturas delapidadas, desemprego e empresas sem capacidade de financiar a sua própria recuperação para repor a sua capacidade produtiva, não iremos muito além daquilo que conseguimos fazer no ano passado. Será muito abaixo disso”, afirmou o director executivo da CTA, Eduardo Sengo.
Na ocasião, o responsável explicou que o crescimento económico do País em 2025 está pendente de pacotes e medidas de apoio às empresas, de forma a permitir a recuperação dos seus equipamentos e infra-estruturas vandalizados durante as manifestações pós-eleitorais, garantir o ‘stock’ de mercadorias e assegurar os empregos.
“Se permanecer uma contínua redução da taxa de juro, o alívio das Reservas Obrigatórias e, acima de tudo, a disponibilização de divisas para importações, poderíamos projectar um crescimento um pouco mais robusto do que foi o de 2024, mas não poderemos atingir taxas acima de 5% (previsão para 2024)”, acrescentou Eduardo Sengo.
O responsável explicou ainda que os tumultos pós-eleitorais afectaram o tecido empresarial também com a queda do consumo, reduzindo a contribuição do sector privado para o Produto Interno Bruto (PIB).

Sengo sublinhou que o crescimento económico para 2025 está igualmente dependente da estabilidade política e social do País. “Se conseguirmos recuperar o ‘stock’ de investimentos, em primeiro lugar, isso terá impacto no crescimento económico. Se conseguirmos recuperar o poder de compra e o consumo interno, o turismo funcionar, os transportes retomarem a normalidade e o consumo agregado crescer, essas grandezas juntas podem representar uma pequena aceleração do PIB, com uma previsão de maior aceleração em 2026”, explicou o representante da CTA.
O governador do Banco de Moçambique (BdM), Rogério Zandamela, admitiu, na segunda-feira (27), que o primeiro trimestre está “quase perdido” em termos de crescimento económico, devido à agitação social pós-eleitoral que prevalece, antecipando um crescimento modesto para 2025.
“Na nossa previsão, o primeiro trimestre seria quase perdido, no sentido em que tivemos uma situação muito difícil”, apontou Zandamela, acrescentando que, “na melhor das hipóteses, Moçambique deve registar um crescimento zero ou provavelmente negativo até Março.”
A consultora Oxford Economics reviu em baixa a previsão de crescimento da economia do País para 2024 e para 2025, devido à violência pós-eleitoral, antecipando agora uma expansão de 3,9% e 3,2%, respectivamente.
“Descemos a nossa previsão de crescimento do PIB em Moçambique para este ano, de 4,4% para 3,9%, e para o próximo ano estimamos uma redução da previsão de 4,1% para 3,2%”, escreveram os analistas no mais recente comentário à evolução da economia nacional.