O Governo do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tomará posse na segunda-feira, 20 de Janeiro, e as políticas que defende serão um grande desafio para o Brasil na presidência do BRICS este ano, consideram os analistas citados pela Lusa.
Em Novembro passado, Trump disse que os Estados Unidos vão impor tarifas de importação de 100% sobre produtos do grupo de economias emergentes BRICS, caso os países membros tentem substituir o dólar por outras moedas em transacções comerciais internacionais.
A agenda brasileira na liderança do BRICS – grupo fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que admitiu como membros plenos também o Irão, Egipto, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados, Árabes Unidos e a Indonésia – tem entre os seus pontos centrais o debate sobre a utilização de moedas locais para promover o comércio internacional e investimentos, aumentar a cooperação no Sul Global, além de promover uma governança mais inclusiva e sustentável.
Marta Fernández, directora do Brics Policy Centre da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, avaliou que as ameaças de Trump “podem ser mais uma bravata”, mas também considerou que uma oposição tão directa e a ameaça de taxações nos Estados Unidos tende a fazer com que o “avanço no uso das moedas locais para as transacções comerciais ocorra de uma forma mais lenta” dentro do BRICS.
“O outro desafio que Trump traz à presidência brasileira no grupo diz respeito à regulação da Inteligência Artificial e à governança digital, que o país sul-americano levará aos debates. A posição brasileira de regular o uso da IA e responsabilizar plataformas por práticas que entrem em choque com leis locais contrapõe-se à tendência que se fortaleceu com a eleição de Trump, de desregulamentação, defendida por grandes empresas de tecnologia que apoiam o Presidente norte-americano”, frisou.

Por sua vez, Paulo Borba Casella, director do Grupo de Estudos sobre o BRICS (Gebrics) da Universidade de São Paulo (USP), salientou que o regresso de Trump ao Governo dos Estados Unidos é um factor de incerteza, tensão e riscos desnecessários, mas considerou que a “ameaça que fez, de sobretaxar em 100% as exportações dos países do BRICS caso usem uma outra moeda de troca e de conta no comércio internacional que não fosse o dólar, é um disparate.”
“Os EUA não têm controlo total de todo o comércio mundial. E sobretaxar importações de outros países não é só algo que actua contra o país que exporta, também gera inflação e desabastecimento no mercado interno americano”, acrescentou.
O mesmo especialista afirmou que a ascensão de Trump é “uma ameaça para o mundo pelo tipo de atitude que já tomou no passado para a sobrevivência e a saúde da democracia americana e pelo desapreço que tem pelas instituições internacionais e pelas regras que regem o sistema institucional e normativo internacional. Trump tem um discurso tão negativo para o sistema internacional quanto o Presidente russo, Vladimir Putin.”
Casella lembrou que “a ordem mundial consolidada após a 2.ª Guerra Mundial continua a ser central para o sistema internacional vigente, mas precisa de alguns ajustes. O papel do Brasil na presidência temporária do BRICS em 2025 não é de romper com o sistema, mas a defesa de que o sistema internacional precisa de ser actualizado e ajustado para reflectir o equilíbrio mundial que existe hoje ou a falta de equilíbrio.”
“O Brasil pode trazer bom senso e tentar manter o equilíbrio num contexto internacional que tem um acirramento de tensões desnecessárias”, concluiu.