Nos seus primeiros 100 dias de mandato, o Presidente dos Estados Unidos de América, Donald Trump, e o secretário da Energia, Chris Wright, devem prosseguir com uma agenda global de “liberdade energética” que dê prioridade a uma energia acessível e económica, eliminando os obstáculos ao investimento e à produção.
Segundo um artigo escrito pelo presidente e director executivo do Centro Global de Análise Energética, Joseph McMonigle, publicado no portal de notícias Energy Conects na quarta-feira, 15 de Janeiro, a estratégia melhoraria o nível de vida mundial e reduziria o risco de choques de preços, criando simultaneamente uma base sólida para combater as alterações climáticas.
O órgão conta que uma agenda global para a liberdade energética permitiria melhorar a vida de milhões de pessoas e combater a desigualdade energética. Ao contrário da abordagem unilateral “net zero até 2050”, que exige reduções imediatas do dióxido de carbono (CO2) a todo o custo, a agenda reconhece outras questões globais prementes – principalmente os 700 milhões de pessoas sem acesso a energia moderna e os milhares de milhões que necessitam de mais energia para melhorar a saúde, a educação e a conectividade. As economias avançadas podem correr com as suas transições energéticas, mas para grande parte do mundo, o acesso a energia fiável é uma prioridade primeira e urgente.
Dentro deste contexto, o responsável pelo Centro Global de Análise elenca cinco iniciativas de políticas fundamentais para consolidar a liderança energética global dos Estados Unidos.
1. Levantar a pausa do GNL
O autor explica que a suspensão, pelo Presidente Biden, de novos projectos de exportação de Gás Natural Liquefeito (GNL) foi “um erro” não apoiado pela ciência. “Globalmente, a queima de carvão atingiu um recorde em 2023. A transição da produção de electricidade do carvão para o gás natural é uma vitória para o clima, uma vez que a queima de gás natural emite cerca de metade do CO2 do carvão”, fundamentou.

Um estudo da McKinsey demonstrou que, nos EUA, a transição do carvão para o gás natural por parte dos serviços públicos evitou a emissão de 500 milhões de toneladas de CO2 ao longo de 15 anos – mais do que todas as instalações eólicas e solares combinadas durante o mesmo período.
O especialista entende que sem o gás natural americano, os países que dependem das importações enfrentam custos de energia mais elevados e é mais provável que recorram ao carvão. A revitalização das exportações de Gás Natural Liquefeito (GNL) deve ser um elemento central de uma estratégia mais alargada de “America First”, em especial em regiões sedentas de energia como a Ásia.
2. Reforçar as relações com os aliados energéticos do Golfo
Joseph McMonigle entende que uma parceria mais forte com as nações do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) reforçaria a segurança energética global e a estabilidade do mercado. “Juntos, os EUA e os países do CCG são superpotências energéticas com interesses comuns na redução da volatilidade do mercado e na garantia de um abastecimento energético diversificado. Uma colaboração renovada pode atenuar os choques de abastecimento e reforçar os laços geopolíticos, alinhando a política energética com objectivos estratégicos mais vastos”, apontou.
3. Liderar a luta contra a pobreza energética em África
O responsável pelo Centro Global de Análise Energética defende que acabar com a pobreza energética até 2030 deve ser uma prioridade da política externa dos EUA. “Actualmente, o aeroporto de Heathrow, em Londres, consome mais energia do que todo o país da Serra Leoa”, exemplificou, para depois sublinhar que “uma energia fiável e acessível é vital para a saúde, educação, emprego e a economia digital”.
Fundamentando, a fonte refere que de forma “alarmante”, mesmo o cenário menos ambicioso de emissões líquidas nulas da Agência Internacional de Energia pressupõe que o consumo de energia per capita em África diminuirá até 2050. “Não se deve esperar que os africanos permaneçam na obscuridade para facilitar os objectivos globais de net zero”, observou Joseph McMonigle.

“A nova administração deve defender o levantamento das proibições impostas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ao financiamento de projectos de combustíveis fósseis nos países em desenvolvimento. A realização de uma Cimeira EUA-África sobre Energia e Desenvolvimento Económico permitiria às nações africanas definir cenários energéticos alinhados com as suas necessidades de desenvolvimento. Esta iniciativa criaria também mercados lucrativos para as empresas americanas”, explicou.
4. Dar prioridade às tecnologias energéticas transformadoras
A transição para o abandono dos combustíveis fósseis demorará mais tempo do que o previsto devido ao seu papel integral em sectores como a aviação, o cimento, os plásticos e os fertilizantes. A eliminação dos hidrocarbonetos prematuramente, sem alternativas viáveis, não é realista.

Neste sentido, o responsável aconselha a administração de Trump a investir em inovações revolucionárias como a fusão nuclear, a captura directa do ar e o hidrogénio com baixo teor de carbono. “Estas tecnologias podem definir o panorama da energia limpa, com a América a posicionar-se como líder. A Lei de Redução da Inflação deve ser alterada para dar ênfase a tecnologias subfinanciadas, como a captura de carbono e a energia nuclear, ao mesmo tempo que se concentra na sustentabilidade do ciclo de vida dos veículos”, apontou.
5. Revitalizar os investimentos nos sectores dos hidrocarbonetos e da exploração mineira
Joseph McMonigle reitera que as políticas actuais correm o risco de desencadear não só uma crise energética, mas também uma de aprovisionamento de minerais que poderá travar a transição. Os défices de investimento nos hidrocarbonetos e nos minerais críticos conduziram à volatilidade dos preços, minando a confiança do público na transição energética.
“A nova administração tem de mostrar aos investidores que os investimentos responsáveis nos hidrocarbonetos e na exploração mineira são essenciais para uma transição pragmática. Um maior investimento apoiaria o desenvolvimento no Sul Global, aliviaria a pobreza energética e criaria um caminho mais suave para sistemas energéticos sustentáveis”, observou.