A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) assumiu uma garantia financeira de 65,8 milhões de meticais (aproximadamente um milhão de dólares) para apoiar a operadora moçambicana de jogos Sojogo, numa tentativa de estabilizar a sua situação financeira. A informação foi revelada esta terça-feira (14) pelo ex-vice-provedor da SCML, Fernando Sousa Afonso, durante uma audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão estratégica e financeira da instituição portuguesa, segundo informou a Lusa.
Segundo Sousa Afonso, a Santa Casa de Lisboa nunca obteve lucros da sua participação na Sojogo, mas manteve-se envolvida na operação, chegando mesmo a intervir financeiramente para evitar o colapso da operadora moçambicana. O apoio foi concedido sob a forma de uma garantia bancária, permitindo que a Sojogo obtivesse um empréstimo junto de um banco moçambicano para reequilibrar as suas contas.
A ligação da Santa Casa ao sector de jogos em Moçambique remonta a 2011, quando passou a presidir ao conselho de administração da Sojogo, empresa que detém a concessão exclusiva dos jogos sociais no País. De acordo com Sousa Afonso, a SCML decidiu reforçar a sua presença em Moçambique para dar um acompanhamento mais próximo à operadora, que enfrentava problemas financeiros e operacionais.
Durante a audição, o ex-vice-provedor explicou que a existência de um departamento de jogos em Moçambique é anterior à independência do País, mas que, nos últimos anos, a SCML procurou gerir de perto a Sojogo devido às dificuldades que enfrentava.
“A instituição decidiu manter uma presença mais próxima da Sojogo para acompanhar os desafios financeiros e operacionais. Em determinado momento, foi necessário assumir uma garantia bancária para permitir um empréstimo que ajudasse a estabilizar a operadora”, afirmou.
Apesar do envolvimento financeiro, Sousa Afonso garantiu que todas as decisões foram tomadas com o conhecimento da Mesa da SCML, sendo analisadas e aprovadas em assembleia geral. No entanto, reconheceu que, até ao momento, a Santa Casa não obteve retorno significativo da sua participação na Sojogo, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade da operação.
A revelação do apoio financeiro à Sojogo surge num contexto de escrutínio sobre a gestão da SCML, particularmente no que diz respeito à sua expansão internacional e ao impacto das suas parcerias fora de Portugal. O Parlamento português continua a investigar as decisões financeiras da instituição, incluindo o seu papel no sector de jogos em Moçambique.
Entretanto, em Moçambique, a Sojogo mantém as suas operações, mas enfrenta desafios de sustentabilidade que poderão exigir novos ajustamentos estratégicos no futuro. A incerteza sobre o apoio contínuo da SCML e a necessidade de equilibrar as contas da operadora continuam a ser questões centrais para o sector.
O processo permanece sob análise, com possíveis desenvolvimentos esperados nas próximas semanas.