O Governo chinês aprovou em Dezembro o aumento do défice orçamental para 4% do PIB em 2025, o valor mais elevado de sempre, mantendo um objectivo de crescimento da economia de 5%. O novo indicador do défice compara com uma meta inicial de 3% do PIB para 2024 e está alinhado com uma política fiscal mais proactiva, conforme definido na reunião do politburo chinês, em Dezembro. O adicional de um ponto percentual de despesa em percentagem do PIB representa 1,3 trilião de yuan (equivalente a cerca 180 mil milhões de dólares norte-americanos) e representa mais uma medida entre várias que têm sido anunciadas para estimular a economia chinesa.
Nos últimos anos, a China tem enfrentado um arrefecimento económico, o que afecta a economia global, dada a importância do país no comércio internacional, na cadeia de fornecimentos e enquanto centro de produção mundial.
Entre os principais factores que contribuem para a desaceleração estão o enfraquecimento do sector imobiliário, a política de “zero-covid” e as respectivas consequências económicas, o envelhecimento populacional, as tensões geopolíticas e comerciais, em particular com os Estados Unidos, e o aumento do endividamento corporativo.
O sector imobiliário, que representa uma parcela significativa do PIB chinês, enfrenta há vários anos uma crise de endividamento, exemplificada pelo colapso de gigantes imobiliários como a Evergrande. Este cenário expôs a fragilidade do sector, causado por um endividamento excessivo. A desaceleração neste sector reduziu a procura por materiais de construção, prejudicando a indústria pesada e as exportações, além de diminuir a confiança dos consumidores e dos investidores privados. A política de “zero-covid”, adoptada durante a pandemia, teve um impacto devastador sobre a economia: o encerramento de fábricas, a interrupção das cadeias de abastecimento e o enfraquecimento do consumo doméstico reduziram significativamente a actividade económica. Embora tenha sido abandonada em 2022, ainda persistem os efeitos colaterais desta política, como uma população reticente em consumir e um mercado de trabalho desajustado.
As tensões comerciais com os Estados Unidos, exacerbadas pela guerra comercial iniciada em 2018, também têm prejudicado a economia (chinesa)
O envelhecimento populacional da China, que acelerou nas últimas décadas, mesmo após o fim da política do “filho único”, em 2016, é outro factor crucial. A taxa de natalidade tem diminuído e a população activa está a envelhecer rapidamente. Há implicações económicas significativas, como a redução da força de trabalho, uma pressão crescente sobre o sistema de segurança social e uma diminuição do consumo interno, à medida que uma grande parte da população entra na idade de reforma.
As tensões comerciais com os Estados Unidos, exacerbadas pela guerra comercial iniciada em 2018, também têm prejudicado a economia. O aumento das tarifas de importação, das restrições ao acesso a tecnologias avançadas, como semicondutores, e de sanções a empresas chinesas afectaram sectores essenciais.
Além disso, questões geopolíticas, como a disputa sobre Taiwan, geram incertezas adicionais para os investidores.
O aumento substancial do endividamento corporativo e a desaceleração do crédito, especialmente no sector privado e nas empresas estatais, restringiram o crescimento das pequenas e médias empresas, que dependem de financiamento para expandir as suas operações.
Este arrefecimento económico da segunda maior economia do mundo traz vastas consequências para a economia global. A redução na procura por matérias-primas, como petróleo, cobre e alimentos, pode afectar os países produtores que têm a China como mercado de exportação de referência.
Enquanto motor do comércio global, o país tem um papel fundamental na produção e no consumo interno, o que implica menos importações e afecta principalmente os países asiáticos e as economias emergentes que dependem das exportações. A desaceleração pressiona também as cadeias de abastecimento globais, uma vez que a China continua a ser um centro crucial de produção
e exportação.
A escassez na produção de produtos e componentes electrónicos poderá intensificar-se, afectando empresas em todo o mundo. Moçambique, que tem a China como importador de referência de matérias-primas, incluindo carvão mineral e madeira, poderá enfrentar desafios. A queda da procura de carvão mineral, por exemplo, poderá reduzir as receitas do País e afectar a execução orçamental.

Além disso, a pressão sobre os preços das matérias-primas pode levar a cortes nos empregos no sector mineiro, aumentando as tensões sociais e económicas em Moçambique. A adaptação às mudanças exigirá políticas e estratégias económicas adequadas, como a diversificação das exportações e a promoção de outros sectores da economia para mitigar os riscos e explorar as oportunidades que podem surgir durante este período de transição. A longo prazo, os efeitos do arrefecimento económico chinês podem ser mais pronunciados. A China terá de lidar com o envelhecimento populacional, que restringe o potencial de crescimento, e adaptar-se a um cenário global mais polarizado, com um crescente distanciamento comercial e tecnológico entre os Estados Unidos e outras grandes potências.
A transição para uma economia mais focada em serviços e consumo interno será um desafio, especialmente sem as mesmas taxas de crescimento que caracterizaram as décadas anteriores.
Se o país não resolver questões estruturais da sua economia, poderá enfrentar um crescimento mais lento e desafios significativos para garantir a sua estabilidade social e política. O impacto desta transição económica será sentido em todo o mundo, exigindo que governos e empresas ajustem as suas estratégias para lidar com um novo paradigma económico global.