A organização não-governamental Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) submeteu esta terça-feira, 14 de Janeiro, à Procuradoria Geral da República uma denúncia sobre um suposto suborno ao presidente do partido Podemos, que suportou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, informou a agência Lusa.
“É uma informação de pessoas que se dizem próximas a esta operação. Viemos aqui para fazer a denúncia à instituição competente e esta deverá fazer uma auditoria dos seus gastos públicos e património a partir de uma certa altura”, declarou à comunicação social, Adriano Nuvunga, director do CDD, momentos após submeter o documento nas instalações do Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), em Maputo.
Em causa está a divergência entre o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que lidera a maior contestação aos resultados eleitorais de sempre no País, e o partido que o suportou, o Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), até ao ano passado uma formação política extraparlamentar que agora é a principal força da oposição no País.
Registado em Maio de 2019 e composto por dissidentes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o Podemos viu a sua popularidade aumentar desde o anúncio, no dia 21 de Agosto, do apoio à candidatura de Mondlane nas presidenciais, como resultado de um “acordo político”, pouco tempo depois de Mondlane ter a sua coligação (CAD) rejeitada pelo Conselho Constitucional por “irregularidades”.
Há uma semana, o presidente do Podemos, Albino Forquilha, admitiu existirem divergências na “estratégia de luta” entre o partido e Mondlane, defendendo o fim das manifestações para o diálogo, embora prometa cumprir com o acordo estabelecido.
Apesar do acordo ainda estar em vigor, a relação entre as partes ficou tensa quando o partido decidiu tomar posse no Parlamento à revelia de Mondlane, que defende que os resultados foram fraudulentos e, por isso, a tomada de posse, que foi boicota por outros dois partidos de posição (Renamo e MDM), era precipitada.
Segundo a denúncia do CDD, Albino Forquilha terá, supostamente, recebido uma quantia de 219 milhões de meticais para “vender a justiça eleitoral.”
“Tendo sido o pagamento em espécie, como se nos é indicado, também é fácil de rastrear”, acrescentou Nuvunga.
A Lusa contactou o departamento de comunicação do Podemos, que prometeu uma reacção em “momento oportuno”.
O Podemos é fruto de uma dissidência de antigos membros da Frelimo, que pediam mais “inclusão económica” e abandonaram o partido no poder, alegando, na altura, “desencanto” e diferentes ambições.
Os resultados promulgados pelo CC no dia 23 de Dezembro apontam o Podemos como maior partido da oposição em Moçambique no próximo Parlamento, com 43 assentos, tirando um estatuto que era da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
Dos 250 assentos que compõem a Assembleia da República, a Renamo passou de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
A Frelimo, no poder desde a independência, manteve-se com uma maioria parlamentar, com 171 deputados.
Nas presidenciais, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor, com 65,17% dos votos.
A eleição de Chapo como sucessor de Filipe Nyusi é, contudo, contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o País vive desde Outubro, com manifestantes pró-Mondlane em protestos a exigirem a “reposição da verdade eleitoral”, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia.