Mais de 12 000 moçambicanos que fugiram para o distrito de Nsanje, no Maláui, devido à instabilidade pós-eleitoral no País, enfrentam dificuldades crescentes no acesso a alimentos. Apesar do apoio prestado pelo Governo malauiano e por algumas organizações humanitárias, os refugiados relatam que a ajuda disponível é insuficiente para cobrir as suas necessidades básicas, aumentando o risco de fome entre as famílias deslocadas, segundo informou a Carta de Moçambique.
A maior parte dos moçambicanos refugiados no Maláui são mulheres e crianças, provenientes do distrito de Morrumbala, na província da Zambézia. Segundo o alto-comissário de Moçambique em Lilongwe, Alexandre Manjate, a missão diplomática moçambicana está a acompanhar a situação e tem trabalhado em coordenação com as autoridades locais para garantir o fornecimento de tendas, colchões, cobertores e produtos alimentares. No entanto, reconhece que os recursos disponíveis podem não ser suficientes e reforça a necessidade de apoio adicional para mitigar a crise humanitária.
Até ao momento, o Governo não interveio directamente na assistência aos refugiados, uma vez que qualquer apoio oficial fora do território nacional depende da aprovação do Conselho de Ministros.
Além disso, as dificuldades de enquadramento legal complicam a resposta à crise, pois, segundo a Convenção de Genebra de 1951, os deslocados moçambicanos não preenchem os requisitos para serem reconhecidos como refugiados formais, visto que a sua saída do País não está directamente associada a perseguições políticas ou conflitos armados.

A crescente chegada de moçambicanos ao Maláui também gerou preocupações entre as autoridades locais, que alertam para possíveis riscos de segurança. A Comissão de Defesa e Segurança do Parlamento do Maláui apelou ao Governo para reforçar o registo e controlo dos moçambicanos que atravessam a fronteira, temendo que alguns possam estar armados.
O presidente da Comissão, Salim Bagus, defendeu a necessidade de vigilância, afirmando que, embora sejam acolhidos como irmãos, é fundamental manter um registo rigoroso da sua entrada no país.
Além disso, especialistas em segurança alertam para as possíveis implicações de longo prazo do fluxo de refugiados, recordando episódios das décadas de 1980 e 1990, quando a chegada de moçambicanos ao Maláui coincidiu com um aumento da criminalidade, incluindo assaltos à mão armada. As autoridades malauianas sublinham a importância de equilibrar a assistência humanitária com a protecção da segurança nacional.
À medida que a crise política no País se mantém, o Maláui enfrenta o desafio de continuar a prestar assistência aos refugiados enquanto protege a sua estabilidade interna. O futuro destas famílias deslocadas permanece incerto, e a necessidade de soluções políticas para garantir a estabilidade em Moçambique torna-se cada vez mais urgente.